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Em ‘Ayka’, só protagonista sofre mais que espectador

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Premiado em Cannes 2018, filme representou Cazaquistão no pré-Oscar deste ano

Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
A atuação da atriz cazaque Samal Yeslyamoava foi premiada no Festival de Cannes 2018

Com uma atuação vigorosa de Samal Yeslyamova, premiada em Cannes no ano passado, conhecemos a protagonista que dá nome ao filme em um hospital de Moscou. As enfermeiras a acordam para que amamente seu bebê, recém-nascido. Ayka disfarça e foge do prédio. Mãe desnaturada? Antes a questão fosse tão simples.

Imigrante em situação ilegal, ela precisa desesperadamente voltar a trabalhar. Sabe que, de uma forma ou outra, o filho estará protegido no hospital. Debilitada, e dependendo de medicamentos, ela volta a encarar, do jeito que pode, a intensa rotina em um matadouro de aves - cena forte, por sinal - subemprego que vem garantindo seu sustento. Mal retorna ao batente, e já toma calote de seus chefes, que desaparecem. Como desgraça pouca é bobagem, ainda deve uma grana razoável a agiotas, fruto de uma infeliz tentativa de montar o próprio negócio.

(Foto: divulgação)
Imigrante ilegal, Ayka abandona o filho recém-nascido no hospital
Pode-se resumir o enredo a isso: Ayka vive uma espiral de infortúnios. Muitos deles, particularmente femininos. Alguns específicos de quem convalesce de um parto. Por isso o sofrimento da personagem comove sobretudo a parcela não masculina do público, em especial aquelas que já viveram uma gravidez. São dores que homem algum jamais conhecerá. Abrange, também, problemas típicos de quem se vê obrigado a viver no estrangeiro em condições precárias.

O que qualquer um perceberá é o excessivo balançar da câmera proposto pelo cazaque Sergei Dvortsevoy, que dirige aqui seu segundo longa de ficção. Seja por carregar vícios dos documentários que dirigiu previamente, ou embarcando na malfadada moda que impregnou o cinema independente europeu nos últimos anos, esse tremor artificial, somado à uma proximidade por vezes asfixiante do objeto em cena, causa antes tontura e dor de cabeça ao espectador, do que propriamente um quê de veracidade e realismo às ações.

Desta forma, ao mesmo tempo em que nos compadecemos pela sofrível jornada da protagonista, sublinhada pelo frio do rigoroso inverno russo, vamos igualmente nos irritando pela saturada linguagem que Dvortsevoy utiliza na movimentação e enquadramentos de câmera. A angústia que deveríamos sentir tão somente por Ayka passa a se dividir com a própria realização do filme. Torcer para que o sofrimento de um personagem se encerre para que, da mesma forma, a projeção também se finalize, definitivamente, não é bom sinal.

VEJA O TRAILER:
Ayka (Ayka) - Rússia/Alemanha/Polônia/Cazaquistão/China/França, 100 min, 2018
Dir.: Sergei Dvortsevoy - Estreou em 11/4.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Em ‘Ayka’, só protagonista sofre mais que espectador Em ‘Ayka’, só protagonista sofre mais que espectador Reviewed by Thiago S. Mendes on 5/02/2019 05:19:00 PM Rating: 5

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