Com visual impressionante, ‘Longa Jornada Noite Adentro’ exige máxima atenção da plateia
Produção sino-francesa traz segundo longa-metragem do diretor Bi Gan
Para quem não consegue deixar o celular inteiramente de lado por duas míseras horas, melhor nem se arriscar a ver esta coprodução entre China e França, escrita e dirigida pelo chinês Bi Gan (‘Kaili Blues’, 2015). O mesmo vale aos que têm o péssimo hábito de falar a todo momento durante o filme. Um simples desvio do olhar é suficiente para que se perca o tênue fio da meada que ‘Longa Jornada Noite Adentro’ nos apresenta.
Contudo, a trama é simples. Após 12 anos, Luo Hongwu (Jue Huang) retorna à sua cidade-natal em busca de Wan Qiwen (Wei Tang), com quem passou alguns dias naquela época, sem nunca mais a reencontrar. As pistas não são totalmente claras. O tempo todo o detetive se vê em solo incerto.
O que nos instiga a concentração é a suave alternância entre passado e presente durante a primeira metade do filme. Nela conhecemos a origem do breve relacionamento do casal, anos atrás, enquanto também acompanhamos a tortuosa investigação de Hongwu nos dias de hoje. Não há transições ou artifícios convencionais que indiquem de forma clara tanto o início quanto o final das cenas que compõem as memórias do personagem. Uma pequena desatenção e o roteiro pode parecer confuso.
(Foto: divulgação)
Uma vez ligado na ordem dos fatos, aprecia-se melhor o imponente visual de ‘Longa Jornada’. A paleta de cores, por sinal, ajuda a nos localizar no tempo cênico. Verde para o passado, vermelho para o presente. As baixas fontes de luz da fotografia corroboram a ideia de um moderno filme “noir”, famoso estilo dos anos 40 e 50, em que normalmente um policial sai pela noite à procura de uma misteriosa mulher desaparecida.
A movimentação de câmera e a composição dos planos - isto é, a disposição dos personagens e objetos na tela - é algo precioso a Bi Gan, que as executa sempre em benefício da narrativa. A segunda metade, por exemplo, toda no tempo presente, é feita como um único plano-sequência, ou seja, sem cortes aparentes durante sua realização. A “mise-en-scene” do diretor é, de fato, a alma e o melhor de seu filme, cujo ritmo das ações pode causar impaciência e cansaço em certos momentos.
O melhor a se fazer, neste caso, é embarcar na rica jornada sensorial que o diretor propõe, entendendo todo o processo como uma forma de explorar a mente, as memórias e sonhos deste homem, Luo Hongwu, atormentado pelas lembranças de uma paixão do passado que, tal qual a ideia fixa que Machado de Assis incute a todo instante em Brás Cubas, insiste em lhe visitar, exigindo cada vez mais uma resolução definitiva para a situação.
A certa altura, já não importa tanto se a busca será bem-sucedida. Como em boa parte de nossas aventuras pessoais, o caminho percorrido já é, por si só, a melhor recompensa que podemos ter. E este jovem cineasta, Bi Gan, ainda chegando em sua terceira década de existência, e apenas em seu segundo filme, tem demonstrado especial talento para nos entregar experiências deste tipo.
VEJA O TRAILER:
Longa Jornada Noite Adentro (Di qiu zui hou de ye wan) - China/França, 139 min, 2018
Dir.: Bi Gan - Estreou em 09/5.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
Contudo, a trama é simples. Após 12 anos, Luo Hongwu (Jue Huang) retorna à sua cidade-natal em busca de Wan Qiwen (Wei Tang), com quem passou alguns dias naquela época, sem nunca mais a reencontrar. As pistas não são totalmente claras. O tempo todo o detetive se vê em solo incerto.
O que nos instiga a concentração é a suave alternância entre passado e presente durante a primeira metade do filme. Nela conhecemos a origem do breve relacionamento do casal, anos atrás, enquanto também acompanhamos a tortuosa investigação de Hongwu nos dias de hoje. Não há transições ou artifícios convencionais que indiquem de forma clara tanto o início quanto o final das cenas que compõem as memórias do personagem. Uma pequena desatenção e o roteiro pode parecer confuso.
(Foto: divulgação)
Wei Tang ('Desejo e Perigo', 2007) interpreta a misteriosa mulher procurada pelo protagonista |
A movimentação de câmera e a composição dos planos - isto é, a disposição dos personagens e objetos na tela - é algo precioso a Bi Gan, que as executa sempre em benefício da narrativa. A segunda metade, por exemplo, toda no tempo presente, é feita como um único plano-sequência, ou seja, sem cortes aparentes durante sua realização. A “mise-en-scene” do diretor é, de fato, a alma e o melhor de seu filme, cujo ritmo das ações pode causar impaciência e cansaço em certos momentos.
O melhor a se fazer, neste caso, é embarcar na rica jornada sensorial que o diretor propõe, entendendo todo o processo como uma forma de explorar a mente, as memórias e sonhos deste homem, Luo Hongwu, atormentado pelas lembranças de uma paixão do passado que, tal qual a ideia fixa que Machado de Assis incute a todo instante em Brás Cubas, insiste em lhe visitar, exigindo cada vez mais uma resolução definitiva para a situação.
A certa altura, já não importa tanto se a busca será bem-sucedida. Como em boa parte de nossas aventuras pessoais, o caminho percorrido já é, por si só, a melhor recompensa que podemos ter. E este jovem cineasta, Bi Gan, ainda chegando em sua terceira década de existência, e apenas em seu segundo filme, tem demonstrado especial talento para nos entregar experiências deste tipo.
VEJA O TRAILER:
Dir.: Bi Gan - Estreou em 09/5.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Com visual impressionante, ‘Longa Jornada Noite Adentro’ exige máxima atenção da plateia
Reviewed by Thiago S. Mendes
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5/18/2019 10:15:00 AM
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