Imprevisível, ‘Torre. Um Dia Brilhante’ provoca aflição sem se preocupar com explicações
Suspense polonês é o primeiro longa da diretora e roteirista Jagoda Szelc
Ao assistir este singular suspense polonês, não procure por respostas a cada mistério apresentado (e serão muitos), pois certamente se decepcionará. ‘Torre. Um Dia Brilhante’, primeiro longa-metragem da jovem Jagoda Szelc, concentra-se especialmente em provocar sensações no espectador. Imagens inquietantes e uma paisagem sonora rica em dissonâncias nos afligem a todo momento, e sem maiores explicações. Fica a nosso cargo imaginar justificativas plausíveis, embora nunca claramente confirmadas em cena - o que não deixa de ser positivo.
(Foto: divulgação)
Mas não estamos completamente no escuro, há lacunas mínimas preenchidas. Junto a sua esposa, Andrzej (Rafal Kwietniewski) está a caminho da casa de uma de suas irmãs, Mula (Anna Krotoska), no interior do país. Traz com ele a outra irmã, Kaja (Malgorzata Szczerbowska), que por motivos não exatamente esclarecidos, esteve internada nos últimos tempos. Os grandes planos gerais do início nos mostram o carro em que viajam serpenteando pela arborizada estrada de uma região montanhosa, remetendo ao começo de ‘O Iluminado’ (1980), de Stanley Kubrick (1928-1999). Lá, no filme de décadas atrás, também viajam três pessoas: um casal e o pequeno filho, que mais tarde revelará certa mediunidade. Eis um indício interessante.
Estes mesmos planos iniciais enfatizam que a família está deixando a cidade, a civilização (coisas terrenas?), subindo montanhas (elevando-se?), indo de encontro à natureza, que aqui assumirá um importante papel, não só como cenário que inspira mistérios, mas também convertendo-se num grande (e duvidoso) personagem místico, ou instrumento deste (nada é certo). A ocasião da visita, por sinal, é a Missa de primeira comunhão da sobrinha, Nina (Laila Hennessy), a se realizar no domingo que se aproxima (a Polônia está entre os países mais católicos do mundo).
(Foto: divulgação)
Só que Nina, na verdade, é filha de Kaja. Foi criada desde pequena por Mula e seu marido, Michal (Rafal Cieluch). Para a criança, são seus pais genuínos. Mula quer preservar essa imagem, proibindo a irmã até mesmo de ficar a sós com Nina. É este o principal cerne que desencadeará os curiosos acontecimentos seguintes. Privar uma mãe de seu direito maternal é como declarar guerra, e uma batalha discreta, quase silenciosa, eclodirá.
Começa, então, um sem-número de estranhas situações. A mais intrigante: na casa também vive Ada (Anna Zubrzycki), mãe de Andrzej, Kaja e Mula. Enferma, mal fala e tem graves dificuldades de locomoção. Kaja passa alguns momentos com ela, e no dia seguinte lá está a matriarca, caminhando e conversando alegremente. A maternidade é, definitivamente, um tema central no filme.
Szelc mostra desenvoltura ao gerar rapidamente tensão psicológica. São pequenas cenas, algumas oníricas, que provocam nossos sentidos, e de alguma forma, tal qual a presença de Kaja para sua família, incomodam nosso bem-estar. Se a ausência de explicações frustra o espectador mais acostumado a uma narrativa clássica (começo, meio e fim), não lhe é negado, contudo, a primária função sensorial de qualquer obra que se defina como arte. Sem falar na imprevisibilidade dos fatos. Pode-se até alegar que ‘Torre’ seja um filme difícil. Entediante, nem pensar.
VEJA O TRAILER:
Torre. Um Dia Brilhante (Wieza. Jasny Dzien) - Polônia, 106 min, 2017
Dir.: Jagoda Szelc - Estreou em 15/11 (S.Paulo); demais cidades: 22/11.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Ligação entre mãe e filha parece falar mais alto em Nina (Laila Hennessy) |
Ao assistir este singular suspense polonês, não procure por respostas a cada mistério apresentado (e serão muitos), pois certamente se decepcionará. ‘Torre. Um Dia Brilhante’, primeiro longa-metragem da jovem Jagoda Szelc, concentra-se especialmente em provocar sensações no espectador. Imagens inquietantes e uma paisagem sonora rica em dissonâncias nos afligem a todo momento, e sem maiores explicações. Fica a nosso cargo imaginar justificativas plausíveis, embora nunca claramente confirmadas em cena - o que não deixa de ser positivo.
(Foto: divulgação)
Kaja (Szczerbowska, à esq) é proibida por Mula (Krotoska) de ficar a sós com Nina |
Estes mesmos planos iniciais enfatizam que a família está deixando a cidade, a civilização (coisas terrenas?), subindo montanhas (elevando-se?), indo de encontro à natureza, que aqui assumirá um importante papel, não só como cenário que inspira mistérios, mas também convertendo-se num grande (e duvidoso) personagem místico, ou instrumento deste (nada é certo). A ocasião da visita, por sinal, é a Missa de primeira comunhão da sobrinha, Nina (Laila Hennessy), a se realizar no domingo que se aproxima (a Polônia está entre os países mais católicos do mundo).
(Foto: divulgação)
A natureza se converte em personagem importante para o filme |
Começa, então, um sem-número de estranhas situações. A mais intrigante: na casa também vive Ada (Anna Zubrzycki), mãe de Andrzej, Kaja e Mula. Enferma, mal fala e tem graves dificuldades de locomoção. Kaja passa alguns momentos com ela, e no dia seguinte lá está a matriarca, caminhando e conversando alegremente. A maternidade é, definitivamente, um tema central no filme.
Szelc mostra desenvoltura ao gerar rapidamente tensão psicológica. São pequenas cenas, algumas oníricas, que provocam nossos sentidos, e de alguma forma, tal qual a presença de Kaja para sua família, incomodam nosso bem-estar. Se a ausência de explicações frustra o espectador mais acostumado a uma narrativa clássica (começo, meio e fim), não lhe é negado, contudo, a primária função sensorial de qualquer obra que se defina como arte. Sem falar na imprevisibilidade dos fatos. Pode-se até alegar que ‘Torre’ seja um filme difícil. Entediante, nem pensar.
VEJA O TRAILER:
Dir.: Jagoda Szelc - Estreou em 15/11 (S.Paulo); demais cidades: 22/11.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Imprevisível, ‘Torre. Um Dia Brilhante’ provoca aflição sem se preocupar com explicações
Reviewed by Thiago S. Mendes
on
11/27/2018 06:45:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Fale com a redação: contato@portaltelenoticias.com