Em São Paulo, filme é exibido com exclusividade no Espaço Augusta
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Estamos em 1984. Theres (Miriam Jakob) e Kenneth (Thorbjörn Björnsson) cantam ao som do violão em troca de algumas moedas. Eles estão na Grécia, então recentemente incorporada à União Europeia. Kenneth recebe uma notícia ruim sobre sua família, o que faz com que retornem mais cedo para casa - ela para a Alemanha Ocidental, ele para a Inglaterra - interrompendo, assim, o relacionamento.
Em ‘O Caminho dos Sonhos’, a diretora e roteirista alemã Angela Schanelec, já em seu nono longa-metragem, abre mão das passagens convencionais de tempo e espaço. Não há escurecimento de tela ou inserção de caracteres que informem data e local das ações. É preciso, portanto, estar atento ao contexto de cada cena.
(Foto: divulgação)
Após Kenneth retornar ao Reino Unido, por exemplo, em questão de poucos minutos já avançamos para meados de 1989, quando o rádio noticia a abertura da fronteira entre Áustria e Hungria, já na iminência da queda do Muro de Berlim. Theres é convocada para trabalhar na capital, momento em que conhecemos o fruto de seu relacionamento com Kenneth.
Então um grande salto, e já estamos próximos dos dias atuais, diante de uma família em crise. A esposa é atriz, dedica-se a viver, em cena, a vida de outras pessoas. O marido é antropólogo, estuda o ser humano. Ambos não são capazes, contudo, de gerenciar as adversidades do casamento. No meio deles está a filha, ainda criança, que parece ser quem melhor lida com a situação, como se algo lhe dissesse que o jeito é seguir praticando e manter-se no jogo. É dela, por sinal, a cena mais sensual do longa, igualmente imbuída de ternura e solidariedade, ao ajudar o colega machucado na piscina.
(Foto: divulgação)
Schanelec segue pela vertente poética - ou menos “hollywoodiana” - mantendo os protagonistas, basicamente, com o mesmo visual e aspecto físico, a despeito das três décadas que se passaram, embora Theres já necessite de fisioterapia para sua coluna. As circunstâncias da vida levam Kenneth à Berlim. Busca rever a antiga companheira? Não se sabe. O fato é que o reencontro deve acontecer, e o testemunharemos, bem como suas consequências - sem grande alarde, mas de profundo significado, assim como em todo o filme.
Composto por gestos calmos, silenciosos (quase não há trilha sonora), ‘O Caminho dos Sonhos’ prima, portanto, pela aparente discrição das ações, também filmadas de maneira simples, mas carregadas de simbolismos decisivos. Pouco a pouco, vão nos falando sobre angústias humanas - o abandono, o desprezo, a solidão, a indiferença. Até mesmo o aspecto de tela escolhido pela diretora (próximo ao quadrado, como nos filmes de antigamente), remete a este sufoco (material, existencial) vivido pelos personagens. Temas cada vez mais relevantes no mundo tecnologicamente hiperconectado de hoje, e que, no entanto, parece caminhar exatamente na direção oposta, se considerados apenas os níveis de empatia e cumplicidade dessas mesmas relações.
Veja o trailer:
O Caminho dos Sonhos (Der Traumhafte Weg) - Alemanha, 86 min, 2017
Dir.: Angela Schanelec - Estreou em 14/6.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Estamos em 1984. Theres (Miriam Jakob) e Kenneth (Thorbjörn Björnsson) cantam ao som do violão em troca de algumas moedas. Eles estão na Grécia, então recentemente incorporada à União Europeia. Kenneth recebe uma notícia ruim sobre sua família, o que faz com que retornem mais cedo para casa - ela para a Alemanha Ocidental, ele para a Inglaterra - interrompendo, assim, o relacionamento.
Em ‘O Caminho dos Sonhos’, a diretora e roteirista alemã Angela Schanelec, já em seu nono longa-metragem, abre mão das passagens convencionais de tempo e espaço. Não há escurecimento de tela ou inserção de caracteres que informem data e local das ações. É preciso, portanto, estar atento ao contexto de cada cena.
(Foto: divulgação)
Os atores Miriam Jakob e Thorbjörn Björnsson vivem Theres e Kenneth em 'O Caminho dos Sonhos' |
Então um grande salto, e já estamos próximos dos dias atuais, diante de uma família em crise. A esposa é atriz, dedica-se a viver, em cena, a vida de outras pessoas. O marido é antropólogo, estuda o ser humano. Ambos não são capazes, contudo, de gerenciar as adversidades do casamento. No meio deles está a filha, ainda criança, que parece ser quem melhor lida com a situação, como se algo lhe dissesse que o jeito é seguir praticando e manter-se no jogo. É dela, por sinal, a cena mais sensual do longa, igualmente imbuída de ternura e solidariedade, ao ajudar o colega machucado na piscina.
David (Phil Hayes), Ariane (Maren Eggert), e a pequena filha (Anaia Zapp) passam por crise familiar |
Composto por gestos calmos, silenciosos (quase não há trilha sonora), ‘O Caminho dos Sonhos’ prima, portanto, pela aparente discrição das ações, também filmadas de maneira simples, mas carregadas de simbolismos decisivos. Pouco a pouco, vão nos falando sobre angústias humanas - o abandono, o desprezo, a solidão, a indiferença. Até mesmo o aspecto de tela escolhido pela diretora (próximo ao quadrado, como nos filmes de antigamente), remete a este sufoco (material, existencial) vivido pelos personagens. Temas cada vez mais relevantes no mundo tecnologicamente hiperconectado de hoje, e que, no entanto, parece caminhar exatamente na direção oposta, se considerados apenas os níveis de empatia e cumplicidade dessas mesmas relações.
Veja o trailer:
O Caminho dos Sonhos (Der Traumhafte Weg) - Alemanha, 86 min, 2017
Dir.: Angela Schanelec - Estreou em 14/6.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘O Caminho dos Sonhos’ mostra crueldade da indiferença humana
Reviewed by Thiago S. Mendes
on
6/18/2018 02:29:00 PM
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