Filme rendeu indicação de melhor atriz à Emmanuelle Devos no César Awards
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Escolhido especialmente por sua distribuidora (Imovision) para estrear no Dia Internacional da Mulher, ‘A Número Um’, exibido na Europa ainda em 2017, poderia facilmente limitar-se a apenas carregar a bandeira das causas que aborda, deixando de lado qualquer preocupação em ser, de fato, um bom filme. Mas sua diretora, e também corroteirista, Tonie Marshall, ganhadora do César Awards nas duas funções por ‘Instituto de Beleza Vênus’ (1999), é experiente: escreve e dirige há quase três décadas, atua há ainda mais tempo, e nos entrega, sim, se não uma obra irretocável, ao menos um bom suspense corporativo.
Emmanuelle Blachey, personagem que rendeu indicação ao César deste ano à Emmanuelle Devos (de ‘Coco Antes de Chanel’, 2009), faz parte de um mundo historicamente dominado por homens, como os quadros da sala de reuniões enfatizam. Apesar da sólida carreira, e do prestígio que tem junto aos líderes de sua empresa, sabe que ali não há chances sequer de estar no pódio destinado aos principais diretores. "Poderá ser a número quatro", um de seus superiores lhe avisa.
(Foto: divulgação)
É, no entanto, lhe oferecida a oportunidade de comandar uma das 40 maiores corporações da França (seleto grupo do qual fazem parte multinacionais como Renault e Carrefour). A partir daí a trama esquenta. Para chegar ao estimado cargo, símbolo evidente do poder e capacidade feminina, Emmanuelle precisará vencer uma concorrência pesada e desleal, em uma disputa tão suja quanto as piores campanhas políticas mundo afora.
Convidada por um grupo de mulheres chefiadas por Adrienne Devaux (Francine Bergé), uma das acionistas mais antigas, a ideia é que Emmanuelle substitua o atual diretor, Jean Beaumel (Richard Berry - ‘22 Balas’, 2010), que sofre de câncer terminal. O problema é que Beaumel já tem seu próprio candidato ao cargo, e está disposto a esgotar a saúde que lhe resta para fazê-lo triunfar.
Se a questão é a igualdade de direitos e oportunidades para todos, uma das propostas mais interessantes do filme é mostrar que o grupo feminino por trás da campanha de Emmanuelle sabe jogar de igual para igual contra a oposição masculina. Se os caras atacam com golpes baixos, serão revidados na mesma medida, num confronto em que, sabemos, a mídia, e sobretudo a internet, têm papel fundamental.
(Foto: divulgação)
Os tons frios da fotografia reforçam o aspecto calculista das ações, de maneira que a primeira metade de ‘A Número Um’ flui muito melhor do que a segunda parte, onde a repetição de situações nos cansa, e frases desnecessárias como “isto mais parece um encontro durante a Guerra Fria” a derrubam ainda mais.
O que mais incomoda, no entanto, é a estranha referência feita a François Truffaut (1932-1984). Entre os mais importantes cineastas da história, e um dos precursores da “nouvelle vague”, Truffaut morreu precocemente, aos 52 anos, vítima de tumor cerebral. Trata-se do mesmo tipo de câncer que acomete o personagem Jean Beaumel. Passaria despercebido, não fosse o plano final concebido da mesma forma que o desfecho de ‘Os Incompreendidos’ (1959), primeiro filme de Truffaut: uma criança correndo pela praia, tendo sua imagem congelada por alguns segundos, antes dos créditos de encerramento. Difícil chamar de homenagem tamanho mau gosto - para não dizer desrespeito à memória do cineasta.
Ainda assim, e apesar do final previsível, Tonie Marshall realiza um trabalho competente. Embora o todo se saia irregular, guardamos melhor o êxito da metade inicial do que as derrapadas posteriores, o que já é bom sinal.
Veja o trailer:
A Número Um (Numéro Une) - França, 110 min, 2017
Dir.: Tonie Marshall - Estreou em 08/3.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Emmanuelle Blachey faz parte de um mundo historicamente dominado por homens, como os quadros da sala de reuniões enfatizam |
Escolhido especialmente por sua distribuidora (Imovision) para estrear no Dia Internacional da Mulher, ‘A Número Um’, exibido na Europa ainda em 2017, poderia facilmente limitar-se a apenas carregar a bandeira das causas que aborda, deixando de lado qualquer preocupação em ser, de fato, um bom filme. Mas sua diretora, e também corroteirista, Tonie Marshall, ganhadora do César Awards nas duas funções por ‘Instituto de Beleza Vênus’ (1999), é experiente: escreve e dirige há quase três décadas, atua há ainda mais tempo, e nos entrega, sim, se não uma obra irretocável, ao menos um bom suspense corporativo.
Emmanuelle Blachey, personagem que rendeu indicação ao César deste ano à Emmanuelle Devos (de ‘Coco Antes de Chanel’, 2009), faz parte de um mundo historicamente dominado por homens, como os quadros da sala de reuniões enfatizam. Apesar da sólida carreira, e do prestígio que tem junto aos líderes de sua empresa, sabe que ali não há chances sequer de estar no pódio destinado aos principais diretores. "Poderá ser a número quatro", um de seus superiores lhe avisa.
(Foto: divulgação)
Emmanuelle tem a chance de presidir uma das maiores empresas da França |
Convidada por um grupo de mulheres chefiadas por Adrienne Devaux (Francine Bergé), uma das acionistas mais antigas, a ideia é que Emmanuelle substitua o atual diretor, Jean Beaumel (Richard Berry - ‘22 Balas’, 2010), que sofre de câncer terminal. O problema é que Beaumel já tem seu próprio candidato ao cargo, e está disposto a esgotar a saúde que lhe resta para fazê-lo triunfar.
Se a questão é a igualdade de direitos e oportunidades para todos, uma das propostas mais interessantes do filme é mostrar que o grupo feminino por trás da campanha de Emmanuelle sabe jogar de igual para igual contra a oposição masculina. Se os caras atacam com golpes baixos, serão revidados na mesma medida, num confronto em que, sabemos, a mídia, e sobretudo a internet, têm papel fundamental.
(Foto: divulgação)
Os tons frios da fotografia reforçam o aspecto calculista das ações |
O que mais incomoda, no entanto, é a estranha referência feita a François Truffaut (1932-1984). Entre os mais importantes cineastas da história, e um dos precursores da “nouvelle vague”, Truffaut morreu precocemente, aos 52 anos, vítima de tumor cerebral. Trata-se do mesmo tipo de câncer que acomete o personagem Jean Beaumel. Passaria despercebido, não fosse o plano final concebido da mesma forma que o desfecho de ‘Os Incompreendidos’ (1959), primeiro filme de Truffaut: uma criança correndo pela praia, tendo sua imagem congelada por alguns segundos, antes dos créditos de encerramento. Difícil chamar de homenagem tamanho mau gosto - para não dizer desrespeito à memória do cineasta.
Ainda assim, e apesar do final previsível, Tonie Marshall realiza um trabalho competente. Embora o todo se saia irregular, guardamos melhor o êxito da metade inicial do que as derrapadas posteriores, o que já é bom sinal.
Veja o trailer:
Dir.: Tonie Marshall - Estreou em 08/3.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘A Número Um’ traz mulheres no centro de bom suspense corporativo
Reviewed by Thiago S. Mendes
on
3/09/2018 12:49:00 PM
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