Documentário reúne mais de 100 curtas produzidos pelos irmãos franceses, totalmente restaurados
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Quando pensamos em tudo o que o cinema representa hoje, em termos culturais, artísticos e financeiro, é difícil conceber a ideia de que pouco mais de 120 anos atrás Auguste e Louis Lumière não projetavam uma função comercial duradoura ao cinematógrafo, aparelho cujos primeiros feitos acabavam de demonstrar ao público parisiense, em dezembro de 1895. Imaginavam, sim, que a engenhoca recém-inventada, um aprimoramento do cinetoscópio de Thomas Edison, serviria a propósitos meramente científicos. Ainda assim, decidiram cobrar pela entrada dos que foram conferir dez dos pequenos registros então realizados pelos irmãos. Com essa primeira exibição pública não gratuita, que maravilhou, atordoou e causou espanto entre os presentes, nascia, oficialmente, o cinema.
(Foto: divulgação)
O entusiasmo da estreia os levou a enviar operadores por todo o mundo, com a missão de registrar culturas e hábitos diversos ao redor do globo. Até 1905, quando decidiram se retirar da área, seriam mais de 1400 filmes, todos com duração de até 50 segundos - o máximo que as primeiras bobinas permitiam. Após um longo e árduo processo de restauração, 114 desses registros, agora em ultradefinição (4K), estão reunidos e comentados pelo diretor do tradicional festival de Cannes, Thierry Frémaux, em ‘Lumière! A Aventura Começa’.
A agradável narração de Frémaux, espirituosa e didática, nos permite viajar para tempos cada vez mais remotos. Difícil não se encantar com imagens do cotidiano europeu de 120 anos atrás. Se não hipnotizam pela nostalgia, nos prendem pela sensação de pertencerem a um mundo que para muitos de nós pode parecer completamente desconhecido. Por isso a importância desses filmes como registro antropológico e social deste período específico da história humana.
(Foto: divulgação)
Causa igual admiração, também, a consciência estética que Lumière e seus operadores carregavam na composição de cada plano. Observamos, ainda, a cuidadosa direção dos primeiros atores em cena, o zelo em executar as ações dentro do enxuto limite de tempo daqueles primeiros filmes. Ou seja, apesar de considerados entre os pioneiros do documentário, Lumière e seus comandados já demonstravam certa desenvoltura com a “mise-en-scène” típica das ficções.
Daí resulta títulos como ‘O Regador Regado’ (1895), considerado a primeira comédia cinematográfica. Mesmo o filme inicial, ‘A Saída do Operários da Fábrica’ (1895), ponto de partida daquela primeira sessão de cinema, em fins de 1895, foi registrada ao menos três vezes, e, a julgar pela posição do sol em cada uma delas, provavelmente em dias diferentes. “Os irmãos Lumière foram pioneiros, também, da refilmagem (remake)”, nos destaca a narração sempre bem-humorada de Frémaux.
(Foto: divulgação)
Desta forma, ‘Lumière! A Aventura Começa’ é um mergulho obrigatório aos primórdios do cinema, um (re)encontro necessário com as raízes que se aprofundaram na cultura humana com a rapidez devastadora da evolução tecnológica do século 20. Uma década depois, Griffith, na América, e Méliès, na Europa, já se tornavam os primeiros grandes diretores de ficção da história cinematográfica e praticamente definiam uma nova e já madura linguagem. Feito tão espantoso quanto a sensação daqueles primeiros espectadores, certos de que o trem que se aproximava cada vez mais da plataforma e do cinematógrafo que o registrava (‘A Chegada de um Trem à Estação’, 1895) atravessaria a tela e invadiria de maneira catastrófica o Grand Café, em Paris.
Se cenas como essa já não nos amedrontam, a fascinação que exercem sobre nós parece ser a mesma de 122 anos atrás. Paixão à primeira vista.
Cereja
Como já de praxe em filmes de super-heróis, há uma cena pós-crédito ao final de ‘Lumière!’, que traz uma aparição mais do que especial.
Veja o trailer:
Lumière! A Aventura Começa (Lumière!) - França, 90 min, 2016
Dir.: Thierry Frémaux - Estreou em 14/12.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
'Saída dos Operários da Fábrica' (1895), filme da primeira sessão de cinema da história |
Quando pensamos em tudo o que o cinema representa hoje, em termos culturais, artísticos e financeiro, é difícil conceber a ideia de que pouco mais de 120 anos atrás Auguste e Louis Lumière não projetavam uma função comercial duradoura ao cinematógrafo, aparelho cujos primeiros feitos acabavam de demonstrar ao público parisiense, em dezembro de 1895. Imaginavam, sim, que a engenhoca recém-inventada, um aprimoramento do cinetoscópio de Thomas Edison, serviria a propósitos meramente científicos. Ainda assim, decidiram cobrar pela entrada dos que foram conferir dez dos pequenos registros então realizados pelos irmãos. Com essa primeira exibição pública não gratuita, que maravilhou, atordoou e causou espanto entre os presentes, nascia, oficialmente, o cinema.
(Foto: divulgação)
Os irmãos Auguste e Louis Lumière patentearam o cinematógrafo em 1895 |
A agradável narração de Frémaux, espirituosa e didática, nos permite viajar para tempos cada vez mais remotos. Difícil não se encantar com imagens do cotidiano europeu de 120 anos atrás. Se não hipnotizam pela nostalgia, nos prendem pela sensação de pertencerem a um mundo que para muitos de nós pode parecer completamente desconhecido. Por isso a importância desses filmes como registro antropológico e social deste período específico da história humana.
(Foto: divulgação)
'O Regador Regado' (1895), considerado a primeira comédia da história do cinema |
Daí resulta títulos como ‘O Regador Regado’ (1895), considerado a primeira comédia cinematográfica. Mesmo o filme inicial, ‘A Saída do Operários da Fábrica’ (1895), ponto de partida daquela primeira sessão de cinema, em fins de 1895, foi registrada ao menos três vezes, e, a julgar pela posição do sol em cada uma delas, provavelmente em dias diferentes. “Os irmãos Lumière foram pioneiros, também, da refilmagem (remake)”, nos destaca a narração sempre bem-humorada de Frémaux.
(Foto: divulgação)
'A Chegada de um Trem à Estação' (1895) causou aflição aos primeiros espectadores de cinema |
Se cenas como essa já não nos amedrontam, a fascinação que exercem sobre nós parece ser a mesma de 122 anos atrás. Paixão à primeira vista.
Cereja
Como já de praxe em filmes de super-heróis, há uma cena pós-crédito ao final de ‘Lumière!’, que traz uma aparição mais do que especial.
Veja o trailer:
Dir.: Thierry Frémaux - Estreou em 14/12.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Lumière! A Aventura Começa’ é obrigatório ao amante do cinema
Reviewed by Thiago S. Mendes
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12/19/2017 07:30:00 AM
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