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Oscar 2018: melhorou, mas comissão brasileira continua errando

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‘Bingo - O Rei das Manhãs’ supera 22 concorrentes e tenta indicação à categoria de filme estrangeiro

Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Filme nacional 'Bingo - O Rei das Manhãs’ trata-se de uma história
extremamente convencional: a ascensão, queda e redenção de um artista
Entra ano, sai ano, trocam-se os integrantes, mas a comissão escolhida para decidir o representante brasileiro inscrito no Oscar - que tenta, assim, uma indicação à categoria de filme estrangeiro - continua em sua desagradável média de dois ou três equívocos para cada acerto.

É bem verdade, 'Bingo - O Rei das Manhãs’ nos representa multiplicadas vezes melhor do que o fraco 'Pequeno Segredo' no ano passado. De fato, é um filme muito bom, com visual caprichado, elenco harmonioso e uma direção inspirada de Daniel Rezende - ainda que pese demais a mão na transição para o ato final. Mas, convenhamos, trata-se de uma história extremamente convencional: a ascensão, queda e redenção de um artista. ‘Ray’ (2004), ‘Tim Maia’ (2014), ‘Elis’ (2016)... A estrutura é a mesmíssima.

A comissão pode ter apostado no prestígio de Daniel em Hollywood. Internacionalmente conhecido por seu trabalho como montador de Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite I e II (2007 e 2010), editou por lá o refilmagem de Robocop (2014), alguns anos atrás, e ainda foi escolhido por Terrence Malick para montar 'A Árvore da Vida' (2011). Outro dado em jogo pode ser o fato de que 'Bingo' retrata a versão tupiniquim de um personagem que fez enorme sucesso nos EUA, o palhaço Bozo. Embora o tiro possa sair pela culatra, afinal, não nos causaria estranheza ver um filme norte-americano sobre o Chacrinha, por exemplo?

Agora, se o que a comissão da Academia Brasileira de Cinema tinha em mente era optar por uma narrativa mais acessível, o tiro pode ter sido direto no pé. Basta dar uma olhada nos últimos finalistas e vencedores do Oscar de filme estrangeiro para ver que não é bem esse tipo de filme que tem prevalecido. 'Ida' (Polônia, 2014), ‘O Filho de Saul’ (Hungria, 2015) e 'O Apartamento' (Irã, 2016) não são exatamente o que podemos chamar de filmes fáceis de digerir.

(Foto: divulgação)
Tínhamos entre os 22 concorrentes restantes 'Como Nossos Pais', que, 
ao contrário de 'Bingo', já começou sua carreira internacional
Por outro lado, tínhamos entre os 22 concorrentes restantes 'Como Nossos Pais', de Laís Bodanzky, que, ao contrário de 'Bingo', já começou sua carreira internacional (há meses, por sinal), com premiações em diversos festivais, estreias programadas em vários países e menções elogiosas em grandes publicações especializadas, algumas na terra do Tio Sam, onde o marketing é comprovadamente decisivo quando o assunto é Oscar.

Mas ainda mais importante é se tratar de um filme extremamente competente, com atuações brilhantes e um tema de relevo universal e recorrente. Dirigido e protagonizado por mulheres, discute com muita elegância e originalidade as conquistas e frustrações da mulher moderna, com o mérito de abrir o leque para questões familiares e afetivas. Logo num período em que a Academia de Hollywood faz esforço inédito para reparar injustiças recentes e de longa data contra negros, mulheres e LGBTQs. Não poderia haver momento melhor para 'Como Nossos Pais'. No entanto, mais uma vez a comissão, cuja voz feminina foi representada apenas pela produtora Iafa Britz, parece estar alheia a fatores tão pertinentes para a escolha.

(Foto: divulgação)
Cena de 'O Filme da Minha Vida', de Selton Mello
E nem adianta o discurso, enfatizado na véspera pelo presidente da comissão, Jorge Peregrino, de que escolheriam simplesmente o melhor filme entre os candidatos, porque, cá entre nós, é difícil colocar 'Bingo' - que, repito, é muito bom - acima do belíssimo 'O Filme da Minha Vida', de Selton Mello, por exemplo. O que me faz lembrar outro fator que pode ter pesado na escolha: ‘Bingo’ é coproduzido e distribuído aqui pela Warner, gigante norte-americana, o que facilitaria a divulgação do filme por lá.

Vem à mente, também, o fato de que dias atrás ‘Bingo’ foi escolhido por outra comissão, da Ancine, mas também presidida por Jorge Peregrino, como representante nacional no Goya, o equivalente espanhol do Oscar. Onde quero chegar é o seguinte: depois da polêmica do ano passado o MinC deixou a cargo da ABC (Academia Brasileira de Cinema) a escolha deste ano para o Oscar, o que, de forma geral, agradou a todos. Mas a indicação para o Goya foi feita por uma comissão própria da Ancine - como que dando a letra para a comissão da ABC? Ou seja, isenção somente no discurso? São apenas teorias de conspiração, embora ninguém possa cravar que a escolha do primeiro grupo não influenciou a opção do grupo de sexta-feira (15/9), ambos presididos pela mesma pessoa, lembremos. O lance é que esse papo de “escolher o melhor filme” é uma balela descarada.

Dito tudo isso, boa sorte ao ‘Bingo’! Por ‘Pequeno Segredo’ era até constrangedor torcer (e falo apenas do filme em si), mas ‘O Rei das Manhãs’ tem muitos méritos e não deve ser desprezado de jeito nenhum. Apenas não faz muito o perfil dos filmes estrangeiros que o Oscar tem apreciado.
O melhor de tudo? ‘Bingo’, ‘Como Nossos Pais’ e até mesmo ‘O Filme da Minha Vida’ (procurando bem, encontra) ainda estão em cartaz para você conferir se a escolha foi justa.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Oscar 2018: melhorou, mas comissão brasileira continua errando  Oscar 2018: melhorou, mas comissão brasileira continua errando Reviewed by Redação on 9/18/2017 10:17:00 AM Rating: 5

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