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Modesto, ‘El Mate’ é feliz ao evocar cinema marginal paulistano

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Produção ganhou prêmio de melhor ator coadjuvante em Gramado 2016

Crítica  | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
O assassino de aluguel Armando (Marcoff) jamais esperaria uma noite
mais caótica do que esta em que o filme se passa
A bem-sucedida parceria entre o brasileiro Bruno Kott e o argentino Fabio Marcoff, comprovada em ‘No Divã do Dr. Kurtzman’, divertido híbrido entre ‘talk-show’ e ficção exibido pelo Canal Brasil, rende, agora, esta singela produção independente, captada sem leis de incentivo, que marca a digna estreia de Bruno na direção para cinema, na qual também atua e assina o roteiro, em colaboração com o colega portenho.

Se há fraquezas em ‘El Mate’, contar uma história previsível não é uma delas. Longe disso. O assassino de aluguel Armando (Marcoff) jamais esperaria uma noite mais caótica do que esta em que o filme se passa. Tudo o que ele deseja é que seus clientes busquem o quanto antes o russo que sequestrou e mantém amarrado nos fundos da casa. Assim poderá relaxar e acompanhar tranquilamente o jogo do Boca Juniors, que já está por começar. No entanto, como um pequeno deslizamento que se transforma em avalanche, uma sucessão de acontecimentos vão tornando cada vez mais complicada a situação do pobre argentino.

Peça fundamental para o desequilíbrio dos fatos é Fábio (o próprio Bruno Kott, em papel que lhe rendeu o Kikito de ator coadjuvante no Festival de Gramado de 2016), jovem testemunha de Jeová que bate à porta de Armando. Desconfiado, o criminoso resolve deter Fábio em sua casa, envolvendo-o deliberadamente em seu delito. Nasce, então, uma inusitada relação entre os dois, que acaba por ser o cerne da trama.

(Foto: divulgação)
Peça fundamental para o desequilíbrio dos fatos é Fábio, um jovem
testemunha de Jeová que bate à porta de Armando
Gravado em apenas 11 dias, ‘El Mate’ carrega uma certa aura do “cinema marginal” paulistano, da antiga Boca do Lixo dos anos 60 e 70: orçamento limitado, bancado em grande parte pelos próprios realizadores; locações simples - no caso, uma antiga casa em São Paulo; equipe enxuta, mas que, apaixonada pelo projeto, garante a sua realização.

É, também, um filme de resistência. Na contramão de produções nacionais que cada vez mais emulam padrões narrativos do cinema norte-americano - por vezes de maneira até constrangedora -, o roteiro de ‘El Mate’, carregado de situações nonsense e humor áspero, procura fugir de estereótipos hollywoodianos. Não sem antes levar o espectador na direção oposta, daí sua imprevisibilidade.

Contudo, a limitação de recursos parece transparecer em alguns momentos. Nas cenas gravadas no banheiro a iluminação destoa fortemente do restante, aparentando ser menos trabalhada em relação às demais. Impressão semelhante surge quando os mandantes do sequestro são mostrados em uma lanchonete, enquanto falam ao telefone com Armando. O plano, por si só, já é desnecessário - bastava a voz em “off”, como ocorre em outros momentos - mas a fotografia notadamente distinta, automática demais, podemos dizer, rompe a unidade estética da obra.

É provável que o estabelecimento tenha dado algum tipo de suporte a produção, de forma que lhe valesse a menção. Sendo assim, não dá para condenar, mas talvez fosse o caso de assumir desde o início uma fotografia mais próxima de algo amador, ou natural, como Roberto Moreira fez em seu marcante filme de estreia, ‘Contra Todos’ (2004), onde gravou quase todas as cenas com câmeras digitais domésticas, dessas que compramos em qualquer hipermercado.

De qualquer forma, ‘El Mate’ não deixa de ser interessante em momento algum, tendo ainda o mérito de deixar evidente a personalidade de seu diretor, que não tem medo de questionar sua arte e de expor seus conflitos internos ao público. Uma forma, inclusive, de desafiar essa audiência a embarcar em seu projeto. A citação que seu personagem faz ao filme em que Van Damme interpreta ele mesmo, ‘JCVD’ (2008), com direito a detalhada descrição de uma cena específica, é uma clara forma de provocar e instigar a plateia - até porque ‘JCVD’ é, de fato, um positivo e surpreendente ponto fora da curva na errante carreira do antigo astro dos filmes de ação.

Veja o trailer:
El Mate (Brasil, 70 min, 2017) - Dir.: Bruno Kott
Estreou em 17/8 (S.Paulo-SP)

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Modesto, ‘El Mate’ é feliz ao evocar cinema marginal paulistano Modesto, ‘El Mate’ é feliz ao evocar cinema marginal paulistano Reviewed by Redação on 8/18/2017 02:33:00 PM Rating: 5

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