Comédia espanhola é refilmagem de longa australiano
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
A falta de criatividade que domina Hollywood nos últimos tempos, com suas inúmeras, velozes e furiosas sequências - em geral extremamente rentáveis, é verdade -, além de refilmagens cada vez mais frequentes e menos distantes no tempo em relação às obras originais, parece contaminar outros cantos do mundo. ‘Kiki: Os Segredos do Desejo’ é a versão do espanhol Paco León para o australiano ‘A Pequena Morte’ (2014), de Josh Lawson, lançado apenas dois anos antes (‘Kiki’ estreou na Europa ainda em 2016), possivelmente um recorde!
Claro que seria injusto dizer que ‘Kiki’ é uma cópia pura e simples, como muitas refilmagens de terror japonês realizadas no ocidente já chegaram muito próximas de ser, por exemplo. León, que também atua e divide o roteiro com Fernando Pérez, emprega neste seu terceiro longa um humor mais escrachado em relação à produção original, a pitada latina e caliente que falta em ‘A Pequena Morte’.
(Foto: divulgação)
Talvez por consequência direta, as situações dramáticas mais aprofundadas e poéticas que permeiam o filme australiano perdem força na versão espanhola. Exceção feita à notável sequência de abertura, onde uma mescla de imagens associam o desejo sexual humano aos instintos naturais do reino animal. E aqui entramos no assunto em questão: basicamente, casais que andam com a libido em baixa descobrem alternativas incomuns para contornar o problema e revitalizar o relacionamento. Por isso somos apresentados, entre outros, a conceitos como sonofilia (atração sexual por pessoas dormindo) e lacrimofilia (excitação ao ver o parceiro em lágrimas). Como se supõe, cada casal, interpretados por diversos atores de sucesso na TV local, vive uma situação em particular. Logo, também se prevê, é em cima dessa estrutura que a comédia se constrói, e sobre a qual surge a principal bifurcação entre o precursor australiano e sua variação espanhola.
Enquanto o primeiro mantém uma linha mais sóbria, que lhe dá margem para transitar da comédia ao drama leve com maior naturalidade, ‘Kiki’ se vale da maior expressividade (cafonice?) latina, valendo-se de circunstâncias mais exageradas e improváveis em suas diversas ramificações de personagens, mas que no fim das contas parecem se identificar mais com a cultura espanhola.
De qualquer forma, o roteiro de ‘A Pequena Morte’ é mais habilidoso em conectar os distintos núcleos da história, seja pela mera disposição geográfica dos casais, seja pela inserção de um personagem específico para esta função. ‘Kiki’ não se preocupa em construir essa unicidade. Ao contrário, o faz tardiamente e de maneira simplória e artificial.
Como nem só de pedras este texto é composto, há de se dizer que ‘Kiki’ acerta ao mostrar-se mais em sintonia em relação às múltiplas opções sexuais que afloram no ser humano. É feliz, também, ao tornar um dos personagens paraplégicos, utilizando-se deste fato para construir uma base mais sólida para a história do casal em questão. É pouco, no entanto, para afastar a característica mais marcante que o filme nos desperta: sua futilidade.
Veja o trailer:
Kiki: Os Segredos do Desejo (Kiki, El Amor se Hace) - Espanha, 102 min, 2016.
Em cartaz desde 15/6.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
No filme, casais que andam com a libido em baixa descobrem alternativas incomuns para contornar o problema e revitalizar o relacionamento |
Claro que seria injusto dizer que ‘Kiki’ é uma cópia pura e simples, como muitas refilmagens de terror japonês realizadas no ocidente já chegaram muito próximas de ser, por exemplo. León, que também atua e divide o roteiro com Fernando Pérez, emprega neste seu terceiro longa um humor mais escrachado em relação à produção original, a pitada latina e caliente que falta em ‘A Pequena Morte’.
(Foto: divulgação)
‘Kiki’ acerta ao mostrar-se mais em sintonia em relação às múltiplas opções sexuais que afloram no ser humano |
Enquanto o primeiro mantém uma linha mais sóbria, que lhe dá margem para transitar da comédia ao drama leve com maior naturalidade, ‘Kiki’ se vale da maior expressividade (cafonice?) latina, valendo-se de circunstâncias mais exageradas e improváveis em suas diversas ramificações de personagens, mas que no fim das contas parecem se identificar mais com a cultura espanhola.
De qualquer forma, o roteiro de ‘A Pequena Morte’ é mais habilidoso em conectar os distintos núcleos da história, seja pela mera disposição geográfica dos casais, seja pela inserção de um personagem específico para esta função. ‘Kiki’ não se preocupa em construir essa unicidade. Ao contrário, o faz tardiamente e de maneira simplória e artificial.
Como nem só de pedras este texto é composto, há de se dizer que ‘Kiki’ acerta ao mostrar-se mais em sintonia em relação às múltiplas opções sexuais que afloram no ser humano. É feliz, também, ao tornar um dos personagens paraplégicos, utilizando-se deste fato para construir uma base mais sólida para a história do casal em questão. É pouco, no entanto, para afastar a característica mais marcante que o filme nos desperta: sua futilidade.
Veja o trailer:
Kiki: Os Segredos do Desejo (Kiki, El Amor se Hace) - Espanha, 102 min, 2016.
Em cartaz desde 15/6.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Kiki: Os Segredos do Desejo’ é inferior à produção que o inspirou
Reviewed by Redação
on
6/19/2017 04:00:00 PM
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