campa-insta


‘Dégradé’ tem desfecho interessante, mas falta dinamismo em seu desenvolvimento

Compartilhar no WhatsApp!
Entre outros, filme passou pelos prestigiados festivais de Cannes e Toronto

Crítica  | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Personagens apresentados, o ilusório tom de comédia estabelecido
em ‘Dégradé’, é habilmente entremeado por crescentes lapsos de
 tensão que prenunciam o movimentado ato final
Há, em ‘Dégradé’, primeiro longa-metragem dos gêmeos palestinos Arab e Tarzan Nasser, um inegável fator atrativo, detectado já em sua sinopse: a história se passa em único dia, num local muito específico dentro da Faixa de Gaza, território em constante polvorosa pela disputa de décadas entre Israel e Palestina. Definitivamente um lugar a se evitar.

E lá está, no entanto, o salão de beleza de Christine (Victoria Balitska), imigrante russa que prefere viver na região a retornar para sua terra natal. É um dia aparentemente normal em seu estabelecimento, frequentado apenas por mulheres. A noiva, acompanhada da mãe e da futura sogra, se prepara para o casamento. Uma antiga cliente, aguarda, impaciente, a conclusão do serviço, pois Wedad (a israelense Maisa Abd Elhadi), funcionária de Christine, tem sua atenção desviada a todo instante pelos telefonemas do namorado guerrilheiro, Ahmed (o próprio codiretor, Tarzan), que marca ponto com seu bando defronte ao salão. Esperando a vez, estão uma religiosa e sua vizinha desbocada. E logo chega a jovem grávida, acompanhada da irmã.

Ideia repaginada: a comédia norte-americana ‘Babershop’ (2002), aqui lançada 15 anos atrás como ‘Uma Turma do Barulho’, tem a mesma premissa de se passar inteiramente dentro de um salão de beleza. No caso, com predominância de clientes masculinos.

(Foto: divulgação)
A funcionária de Christine tem sua atenção desviada a todo instante pelos
telefonemas do namorado guerrilheiro, Ahmed 
A semelhança, porém, é mínima. Personagens apresentados, o ilusório tom de comédia estabelecido em ‘Dégradé’ é habilmente entremeado por crescentes lapsos de tensão que prenunciam o movimentado ato final. Mas o atrativo fator citado no início, pouco a pouco, tem seu efeito revertido conforme nos familiarizamos com os dramas e prazeres de cada uma dessas mulheres. Apesar da boa composição dos enquadramentos, fazendo uso criativo dos espelhos, e do esforço em diversificar os planos - uma vez que praticamente todas as cenas se passam num único cômodo - a produção padece de um roteiro pouco desenvolvido.

Fica claro o objetivo de contrastar um ritmo mais cadenciado na primeira parte do filme com a alta tensão que se apresenta na parte final. Óbvia, também, a intenção de transpor a monotonia que os personagens sentem através da própria inatividade em cena. Mas essa estagnação contradiz justamente a noção, igualmente pretendida, de passagem do tempo. Falta dinamismo. Vale frisar, aqui, que começamos a história em pleno dia, com as cenas finais se passando já em alta noite. É inconcebível, portanto, que mesmo com todos os percalços apresentados, passe-se um dia inteiro - ou mesmo apenas uma tarde - com as mesmas clientes sendo atendidas. Só para citar, ‘Babershop’ é muito mais eficiente neste sentido.

Há, desta forma, uma evidente ruptura da compreensão do tempo por parte do espectador, que passa uma hora inteira assistindo às personagens igualmente dispostas, crendo estar vendo algo como que em tempo real, quando, repentinamente, o sol se põe. E todo a aura documental, realística da trama vai por água abaixo.

Felizmente vem o ato final, como dito, em oposição direta à primeira parte. A tensão se eleva, a movimentação em cena também. A paisagem sonora tem efeito determinante. Um campo de guerra se forma lá fora, encurralando as corajosas mulheres. Daria uma ótima peça de teatro. Apesar do final interessante, a versão cinematográfica deixa a desejar. Ainda que, ultimamente, ver um filme palestino em nosso cada vez menos diversificado circuito comercial já seja algo a se comemorar.

Veja o trailer:

Dégradé (Dégradé) - Palestina/França/Catar, 85 min, 2015.
Em cartaz desde 25/5.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Dégradé’ tem desfecho interessante, mas falta dinamismo em seu desenvolvimento ‘Dégradé’ tem desfecho interessante, mas falta dinamismo em seu desenvolvimento Reviewed by Redação on 6/02/2017 07:22:00 PM Rating: 5

Nenhum comentário

Fale com a redação: contato@portaltelenoticias.com

-

Publicidade

-