Por Thiago Mendes
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(Foto: divulgação / Ad Vitam)
Nie Yinniang (Qi Shu) é uma jovem assassina profissional que retorna ao seio de sua família encarregada de matar o próprio primo |
Em ‘A Assassina’, o já consagrado diretor e roteirista Hsiao-Hsien Hou, presença constante nos principais festivais do mundo há pelo menos 30 anos, e que levou o prêmio de direção em Cannes por este mesmo filme, arrisca-se pela primeira vez neste tipo de produção - algo bem diferente dos dramas urbanos que marcam sua carreira. Se comparado com os exemplos acima, o resultado é um ‘wuxia’ de caráter singular, onde a tensão dramática se dá tanto ou mais pela “não-ação” do que propriamente pelos diminutos embates físicos.
É preciso estar atento para acompanhar Nie Yinniang (Qi Shu, que trabalhou com o diretor em ‘Três Tempos’, de 2005), uma jovem assassina profissional que, após anos de treinamento, retorna ao seio de sua família encarregada de matar o próprio primo, Tian Ji’an (Chen Chang, que também esteve em ‘Três Tempos’), governador de Weibo, então mais forte província da já decadente Dinastia Tang, no século VIII. Além do alto cargo que ocupa, e do próprio parentesco, não se trata de um primo qualquer, senão aquele a quem Yinniang fora prometida na infância. Está dado o tom para o grande dilema que a protagonista passará a enfrentar, o qual procurará resolver - ou pelo menos justificar sua decisão - da forma mais racional e consciente possível. E o caminho, tanto para o espectador, quanto para ela, não será tão simples.
A recompensa, entretanto, nos é dada de diversas formas. Se não traz tanta ação quanto, a princípio, poderíamos imaginar, ‘A Assassina’ herda de ‘O Tigre…’ e seus sucessores a cuidadosa direção de arte, com figurinos e cenários luxuosos, além de deslumbrantes paisagens valorizadas pela fotografia naturalista de Ping Bin Lee - colaborador frequente de Hou - que ganham especial dimensão através dos grandes planos gerais que o diretor oferece. Aliados ao detalhado desenho de som e à pontual batida da trilha de Giong Lim - também reconhecidos em Cannes -, nos é dada uma grande experiência sensorial que nos arremessa diretamente aos prados e vales chineses.
Interessante, também, é notar - a partir da clara intenção dos produtores, e sob forte incentivo do governo local - inserções variadas que demonstram a riqueza histórica da cultura e costumes chineses. Menções às origens do futebol aqui, aprimoramento do espelho acolá, aptidões musicais para a cítara e outros tantos instrumentos de percussão, além das óbvias referências a objetos e práticas de lutas corporais. Há muito a se ver e sentir, e na contramão de tantos “blockbusters fast-foods”, Hsiao-Hsien nos dá tempo para mastigar e ruminar cada uma das cenas. Como um bom vinho de safra madura - e foram 25 anos entre a ideia inicial e sua execução final -, é recomendado, portanto, que se deguste ‘A Assassina’ calma e prazerosamente, a fim de se extrair o máximo de sua essência e sabor.
Veja o trailer:
A Assassina (Nie Yin Niang), Taiwan/China/Hong Kong/França, 105 min, 2015. Em cartaz desde 05/5.
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O wuxia autoral de ‘A Assassina’
Reviewed by Redação
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5/06/2016 05:33:00 PM
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