De Olho no Lance: Os espertos no país da Copa

Por Alisson Matos

Obras atrasadas, algumas sequer iniciadas, construções e reformas que já ultrapassaram orçamentos e o limite de enganação que o bom senso nos permite. Sim, a próxima Copa do Mundo já começou de forma equivocada. E se tudo sendo feito de maneira correta há o risco de que todo o esforço vá por água abaixo, imaginem quando os erros surgem desde a incipiência do projeto.

Não vou utilizar o discurso chavão de que o Brasil tem outras prioridades, porque todos sabem que têm, mas são evidentes os benefícios que um evento dessa magnitude trará, desde que, claro, se tenha o mínimo de decência e cidadania por parte de todos. Ter no Comitê Organizador Ricardo Teixeira, presidente da CBF, nos remete a uma questão óbvia: Não teria ninguém melhor do que ele para a função? Na França, em 1998, por exemplo, tivemos Michel Platini à frente do órgão e na Alemanha, em 2006, Beckenbauer. Será que entre vários ídolos não há ninguém íntegro ao ponto de não ter sequer acusações, pois, na maioria dos casos, só elas bastam. Ou alguém acredita nas inocências dos Delúbios, Malufs, Paloccis, Dirceus e tantos outros?

A três anos do evento e com a maior e mais importante cidade do país fora da Copa das Confederações, os atestados de incompetência e má intenção podem ser assinados. Por uma questão política (só isso explica), o Morumbi dará lugar ao Itaquerão, presente somente nos sonhos dos corintianos, como sede dos jogos em São Paulo. Pior do que o argumento de que a decisão foi para atender às normas da Fifa, é acreditar que os atrasos não são intencionais, porque por aqui, em terras tupiniquins, o velho hábito de deixar tudo para a última hora é muito menos por preguiça e muito mais por interesses financeiros para locupletante algum colocar defeito.

O que entristece é olhar para o horizonte e não ver nem expectativas de melhoras. O ministro dos Esportes, Orlando Silva, atravessou governos e permaneceu. Ricardo Teixeira superou acusações e uma CPI para se perpetuar na presidência da CBF. Isso sem falar nos esportes olímpicos que contam, há anos, com Nuzman. Mas como a expressão "todos roubam” está cravada na alma, no peito e na vida de muitos brasileiros, o que é mais uma acusação de corrupção num país em que encontrar uma instituição fora de suspeitas é mais difícil do que achar uma formiga na imensidão do mar?

Se o Brasil se sagrar campeão, o povo esquecerá tudo o que antecedeu o torneio. Isso, claro, se o evento ocorrer aqui já que países como a Inglaterra, os Estados Unidos e a Alemanha têm estruturas para realizar uma Copa do Mundo ontem. E caso aconteça, ficará, mais uma vez, provado que a esperteza quando é demasiada acaba por comer o esperto.