Diante da emancipação feminina, e de uma sociedade liberal, há quem ainda espere a “pessoa certa” para ter a primeira relação sexual
Por Érika Cabral
O tabu parece ter sido invertido. Se antes, manter-se virgem até o casamento era a regra, agora isso virou exceção. Em uma sociedade em que os jovens iniciam a vida sexual cada vez mais cedo (entre 14 e 16 anos aproximadamente), há quem acredite no ideal de pureza, e espera a Lua de Mel para ter a primeira relação.
Gislaine Almeida (nome fictício) tem 42 anos, trabalha como agente escolar. Ela ainda é virgem e sonha com o parceiro ideal para se entregar. Frequenta a Igreja Evangélica há 20 anos, e diz que isso foi um fator importante para a sua decisão de manter-se pura na espera do casamento.
Segundo ela, a religião prega que tanto o homem quanto a mulher devem preservar seus corpos para a noite de núpcias. “A igreja ensina que tem que se casar virgem, que a mulher tem que preservar seu corpo assim como o homem. Mas, na minha cabeça, eu sempre achei bonito a moça se casar com apenas um rapaz, e eles ficarem juntos para toda a vida”, relata.
Gislaine diz que a pessoa ideal aparece na figura de um homem carinhoso, e que a faça se sentir importante ao lado dele. “Tem que ser uma pessoa boa, trabalhadora e honesta. Para se entregar é necessário que haja um sentimento recíproco”, conclui.
A igreja ainda condena a prática do sexo antes do casamento e o uso de métodos contraceptivos. Para o cristianismo, a virgindade vai muito além de questões biológicas. O ato sexual tem a função de promover uma aliança de compromisso e lealdade instituído por Deus, para o casal que tem a pretensão de se unir em matrimônio.
Porém, há praticantes do catolicismo que não seguem esse mesmo pensamento. “O casamento simboliza o amor entre duas pessoas, não uma permissão para perder a virgindade”, diz Luana Silva (nome fictício), estudante de nutrição, 21 anos, que freqüenta a igreja católica mas tem uma visão diferente em relação aos princípios da sua religião.
Wilson Oliveira (nome fictício) tem 16 anos e é um dos poucos meninos de sua idade que assumem a virgindade. Para ele, o sexo envolve sentimento e a primeira vez está relacionada intimamente com o momento certo. Não basta apenas sentir prazer, tem que estar pronto para senti-lo. O garoto também frequenta a Igreja evangélica e afirma “que ela não foi um fator fundamental na decisão de se manter virgem”. “Essa foi uma escolha que partiu de mim” revela.
Já a estudante Tânia Pereira (nome fictício), 21 anos, não é adepta de nenhuma religião. No entanto, seu romantismo fez com que a moça tomasse a decisão de se casar virgem. “Sou muito romântica e espero pelo príncipe encantado. Eu acredito no amor eterno e, tenho dentro de mim a certeza que o meu grande amor será meu primeiro e único homem”, afirma a jovem, sobre a espera da pessoa certa.
Tânia admite sua curiosidade em saber como é de fato ter uma relação sexual, porém, a pretensão de casar virgem é maior do que tudo isso. “Meu sonho é subir ao altar intacta”, conta a moça convicta de sua decisão.
Bruna Santos (nome fictício), 20 anos, é virgem, mas explica não ter interesse em esperar até o casamento para ter a primeira relação sexual. “Acho interessante a pessoa ter outras experiências antes do matrimônio”, diz.
A estudante também acredita que não vale a pena perder a virgindade apenas para ceder às pressões da sociedade contemporânea. Ela está decidida em esperar o momento certo para ter a primeira relação e evitar arrependimentos. “Não vou forçar a barra, e correr o risco de me arrepender só para dizer que não sou mais virgem”, completa.
A virgindade nunca vai deixar de ser um tema polêmico, mas depois da emancipação feminina, ela se tornou mais rara. Até a década de 1960 as mulheres viviam sexualmente submissas às imposições de uma sociedade machista, que atribuía o prazer sexual apenas ao homem, enquanto para a mulher restava o papel da procriação e do sexo por obrigação.
Nessa década, surge o advento da pílula anticoncepcional, o que propicia a Revolução Sexual Feminina e a liberdade da “fêmea” da função de procriadora. Segundo Sandra Vasquez, orientadora sexual do Instituto Kaplan, com o advento da pílula anticoncepcional e os exames de DNA, fica sem sentido insistir em submeter a mulher à condição de virgem. “Assim, a virgindade hoje é importante para as mulheres e homens pertencentes a determinadas religiões, que colocam essa condição como essencial”, afirma.
Para a orientadora, outras mulheres que pertencem às religiões que não guardam princípios muito rígidos, ou para mulheres que não se importam com esta questão, a virgindade passa a ser a “escolha do melhor momento para iniciar a vida sexual”.
Depois da década de 1960, o sexo ganhou novos rumos dentro da sociedade, tornou-se livre das amarras do casamento, mas não conseguiu se libertar da pressão social que sempre o rondou. Para os homens, o quadro não teve grande mudança, a pressão para transar ainda continua. “Meninos ainda são criados para enxergar o sexo como algo desejável, divertido, que os valoriza”, argumenta Sandra.
Já para as meninas, o quadro se inverteu. Se antes a virgindade era símbolo de pureza a ser preservado até o casamento, hoje, a pressão é para que se perca ela cada vez mais cedo. De acordo a orientadora, muitas jovens têm a primeira relação apenas para fazer parte de um grupo no qual se identifica. “Se iniciar a vida sexual faz parte de pertencer ao grupo de amigas que as estão pressionando, elas podem querer apressar isso, só para não se sentir fora do grupo”, conta.
Sexo sempre foi um dos temas delicados a ser tratado na sociedade, e o fato de poder decidir se quer o não perder a virgindade é um sinal das transformações sociais dos últimos tempos. As amarras que pareciam existir estão sumindo, seja por uma abertura dentro da Igreja, que sempre controlou essa questão, seja por uma evolução natural da humanidade. O homem está cada vez mais consciente de suas escolhas e a liberdade de escolher como e quando se entregar a outra pessoa é algo que pertence apenas a si mesmo.
O símbolo da pureza
Mesmo começando a vida sexual cada vez mais cedo, parece que uma nova onda começa a ganhar espaço entre os adolescentes. Ser virgem até o casamento começa a deixar de ser “careta” entre alguns jovens, que adotaram um símbolo a fim de demonstrar esse desejo para quem quiser ver.
O Anel da Castidade apareceu nos Estados Unidos em 1994 com o programa True Love Waits (O verdadeiro amor espera). O acessório surgiu a partir da iniciativa do pastor Danny Patton, que estava preocupado com a vida sexual de suas filhas e com a decadência moral que, ele julgava, se instalando nos EUA.
No Brasil, o anel foi lançado em 2008, em um evento realizado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, pelas redes mi-nisteriais, reunindo aproximadamente quatro mil participantes. O acessório realmente ganhou força entre os jovens brasileiros depois que artistas como Jonas Brothers, Miley Cyrus e Selena Gomez passaram a usá-los em suas apresentações, assumindo a pretensão de manterem-se virgens até o casamento.
Mas eles não são os primeiros ídolos pop a aderir o uso do anel da castidade. A cantora Britney Spears também usou o anel logo no inicio de sua carreira, mas acabou desistindo da verdadeira razão do acessório no meio do caminho.
Por Érika Cabral
“Hoje, a pressão é para que se perca a virgindade cada vez mais cedo”, diz Sandra Vásquez, orientadora sexual. |
Gislaine Almeida (nome fictício) tem 42 anos, trabalha como agente escolar. Ela ainda é virgem e sonha com o parceiro ideal para se entregar. Frequenta a Igreja Evangélica há 20 anos, e diz que isso foi um fator importante para a sua decisão de manter-se pura na espera do casamento.
Segundo ela, a religião prega que tanto o homem quanto a mulher devem preservar seus corpos para a noite de núpcias. “A igreja ensina que tem que se casar virgem, que a mulher tem que preservar seu corpo assim como o homem. Mas, na minha cabeça, eu sempre achei bonito a moça se casar com apenas um rapaz, e eles ficarem juntos para toda a vida”, relata.
Gislaine diz que a pessoa ideal aparece na figura de um homem carinhoso, e que a faça se sentir importante ao lado dele. “Tem que ser uma pessoa boa, trabalhadora e honesta. Para se entregar é necessário que haja um sentimento recíproco”, conclui.
A igreja ainda condena a prática do sexo antes do casamento e o uso de métodos contraceptivos. Para o cristianismo, a virgindade vai muito além de questões biológicas. O ato sexual tem a função de promover uma aliança de compromisso e lealdade instituído por Deus, para o casal que tem a pretensão de se unir em matrimônio.
Porém, há praticantes do catolicismo que não seguem esse mesmo pensamento. “O casamento simboliza o amor entre duas pessoas, não uma permissão para perder a virgindade”, diz Luana Silva (nome fictício), estudante de nutrição, 21 anos, que freqüenta a igreja católica mas tem uma visão diferente em relação aos princípios da sua religião.
Wilson Oliveira (nome fictício) tem 16 anos e é um dos poucos meninos de sua idade que assumem a virgindade. Para ele, o sexo envolve sentimento e a primeira vez está relacionada intimamente com o momento certo. Não basta apenas sentir prazer, tem que estar pronto para senti-lo. O garoto também frequenta a Igreja evangélica e afirma “que ela não foi um fator fundamental na decisão de se manter virgem”. “Essa foi uma escolha que partiu de mim” revela.
Já a estudante Tânia Pereira (nome fictício), 21 anos, não é adepta de nenhuma religião. No entanto, seu romantismo fez com que a moça tomasse a decisão de se casar virgem. “Sou muito romântica e espero pelo príncipe encantado. Eu acredito no amor eterno e, tenho dentro de mim a certeza que o meu grande amor será meu primeiro e único homem”, afirma a jovem, sobre a espera da pessoa certa.
Tânia admite sua curiosidade em saber como é de fato ter uma relação sexual, porém, a pretensão de casar virgem é maior do que tudo isso. “Meu sonho é subir ao altar intacta”, conta a moça convicta de sua decisão.
Bruna Santos (nome fictício), 20 anos, é virgem, mas explica não ter interesse em esperar até o casamento para ter a primeira relação sexual. “Acho interessante a pessoa ter outras experiências antes do matrimônio”, diz.
A estudante também acredita que não vale a pena perder a virgindade apenas para ceder às pressões da sociedade contemporânea. Ela está decidida em esperar o momento certo para ter a primeira relação e evitar arrependimentos. “Não vou forçar a barra, e correr o risco de me arrepender só para dizer que não sou mais virgem”, completa.
A virgindade nunca vai deixar de ser um tema polêmico, mas depois da emancipação feminina, ela se tornou mais rara. Até a década de 1960 as mulheres viviam sexualmente submissas às imposições de uma sociedade machista, que atribuía o prazer sexual apenas ao homem, enquanto para a mulher restava o papel da procriação e do sexo por obrigação.
Nessa década, surge o advento da pílula anticoncepcional, o que propicia a Revolução Sexual Feminina e a liberdade da “fêmea” da função de procriadora. Segundo Sandra Vasquez, orientadora sexual do Instituto Kaplan, com o advento da pílula anticoncepcional e os exames de DNA, fica sem sentido insistir em submeter a mulher à condição de virgem. “Assim, a virgindade hoje é importante para as mulheres e homens pertencentes a determinadas religiões, que colocam essa condição como essencial”, afirma.
Para a orientadora, outras mulheres que pertencem às religiões que não guardam princípios muito rígidos, ou para mulheres que não se importam com esta questão, a virgindade passa a ser a “escolha do melhor momento para iniciar a vida sexual”.
Depois da década de 1960, o sexo ganhou novos rumos dentro da sociedade, tornou-se livre das amarras do casamento, mas não conseguiu se libertar da pressão social que sempre o rondou. Para os homens, o quadro não teve grande mudança, a pressão para transar ainda continua. “Meninos ainda são criados para enxergar o sexo como algo desejável, divertido, que os valoriza”, argumenta Sandra.
Já para as meninas, o quadro se inverteu. Se antes a virgindade era símbolo de pureza a ser preservado até o casamento, hoje, a pressão é para que se perca ela cada vez mais cedo. De acordo a orientadora, muitas jovens têm a primeira relação apenas para fazer parte de um grupo no qual se identifica. “Se iniciar a vida sexual faz parte de pertencer ao grupo de amigas que as estão pressionando, elas podem querer apressar isso, só para não se sentir fora do grupo”, conta.
Sexo sempre foi um dos temas delicados a ser tratado na sociedade, e o fato de poder decidir se quer o não perder a virgindade é um sinal das transformações sociais dos últimos tempos. As amarras que pareciam existir estão sumindo, seja por uma abertura dentro da Igreja, que sempre controlou essa questão, seja por uma evolução natural da humanidade. O homem está cada vez mais consciente de suas escolhas e a liberdade de escolher como e quando se entregar a outra pessoa é algo que pertence apenas a si mesmo.
O símbolo da pureza
Mesmo começando a vida sexual cada vez mais cedo, parece que uma nova onda começa a ganhar espaço entre os adolescentes. Ser virgem até o casamento começa a deixar de ser “careta” entre alguns jovens, que adotaram um símbolo a fim de demonstrar esse desejo para quem quiser ver.
O Anel da Castidade apareceu nos Estados Unidos em 1994 com o programa True Love Waits (O verdadeiro amor espera). O acessório surgiu a partir da iniciativa do pastor Danny Patton, que estava preocupado com a vida sexual de suas filhas e com a decadência moral que, ele julgava, se instalando nos EUA.
No Brasil, o anel foi lançado em 2008, em um evento realizado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, pelas redes mi-nisteriais, reunindo aproximadamente quatro mil participantes. O acessório realmente ganhou força entre os jovens brasileiros depois que artistas como Jonas Brothers, Miley Cyrus e Selena Gomez passaram a usá-los em suas apresentações, assumindo a pretensão de manterem-se virgens até o casamento.
Mas eles não são os primeiros ídolos pop a aderir o uso do anel da castidade. A cantora Britney Spears também usou o anel logo no inicio de sua carreira, mas acabou desistindo da verdadeira razão do acessório no meio do caminho.
Reportagem Especial: Sou virgem, e daí?
Reviewed by Diego Martins
on
12/09/2010 03:44:00 PM
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