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Reportagem Especial: Sou gay, e daí?

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Apoio é o que espera um homossexual quando conta para seus pais sobre sua identidade

Por Ytiara Oliveira

Assumir a homossexualidade em uma sociedade homofóbica não é uma tarefa fácil. Ser gay nos dias atuais é sinônimo de preconceito, discriminação e aberração. Porém, a determinação faz com que diversos jovens revelem a seus familiares que sentem atração pelo mesmo sexo. Muitos dizem que antes levavam uma vida repleta de mentiras, se sentiam mal por ter que esconder o que realmente são e as coisas que mais gostam de fazer.

Mesmo sendo difícil conversar com os adultos sobre sexualidade, Gustavo Sousa, 18 anos, encontrou em casa um porto seguro: seu pai. “No início, ele ficou em choque, mas hoje ele me trata naturalmente”, declara.

Ele conta que sempre soube que era gay. Quando disse aos colegas, teve medo de ser rejeitado. “Não tive coragem de falar pessoalmente, desabafei por sites de relacionamentos, ninguém ficou surpreso. Depois que souberam, comecei a ser zoado na escola”, expressa.

Sousa tem medo de contar para a mãe, pelo fato dela ser preconceituosa e não aceitar com facilidade, diferente do pai, que lhe dá todo apoio. “Me sinto muito mal por não poder contar com ajuda dela, sei que vai ser difícil. Entretanto, nesse momento não estou ligando para isso”, relata.

(Foto: arquivo pessoal)
Vitor Marcondes, 19, mais livre
após assumir a homossexualidade

Vitor Marcondes, 19 anos, conta que foi um choque quando começou a sentir desejos pelos seus amigos de escola. “Nem um garoto espera, e realmente se surpreende, mas foi maravilhoso, me senti mais leve e realizado, pronto para beijar os gatinhos”, diz o jovem.

Revelar para seus pais foi uma tarefa fácil, pois a reação deles foi a melhor possível. “No momento, parecia que todos já esperavam. Foi mágico, pois minha família é super esclarecida sobre o assunto e todos me aceitaram”, revela.

Marcondes não liga para o que os outros pensam ou falam sobre seu estilo. “Depois que me aceitei, pouco estava ligando para quem deixou de ser meu amigo, apenas quero viver em paz com transparência. Sou bem mais respeitado por todos”, explica.


Nem todos têm a mesma sorte de Marcondes. Almir Paz, 27 anos, perdeu seu amigo Amon Oliveira por consequência da descriminação. Amon era um rapaz dedicado e religioso. Ele ia à Igreja todos os domingos e cantava em uma banda católica. Acabou se apaixonado por um garoto e procurou a mãe para contar o que estava sentindo. Porém, se surpreendeu, pois a reação dela não foi o que ele esperava.

Passou a ser pressionado pela família e pelos amigos. Não acreditaram que o menino tímido e bonito estava sentindo desejo por pessoas do mesmo sexo. Aos 19 anos escreveu uma carta contando que se não fosse aceito pelo seu “jeito” não teria mais motivos para viver. Em 2004, Amon cometeu suicídio ao ingerir veneno.

Após a morte do amigo, Paz começou a dar valores em pequenos atos, diz que é a melhor forma de viver bem consigo mesmo. “As pessoas têm que se aceitar do jeito que elas são, sem se preocupar com rótulos colocados pela sociedade. É muito triste viver em função dos outros”, fala o jovem.

“A rejeição por parte da família pode provocar uma série de efeitos colaterais, como: transtornos comportamentais e psiquiátricos, suicídio, uso de drogas, sentimentos ligados a baixa auto-estima, desenvolvimento de repertório de fuga; esquiva no enfrentamento social, entre outros. Uma pesquisa norte-americana indica que o índice de suicido entre o jovem gay é três vezes maior do que o jovem heterossexual”, diz João Batista Pedrosa, psicólogo, terapeuta sexual e analista do comportamento.

Segundo Pedrosa, quando o homossexual não assume sua orientação para os familiares ou grupo social, ele fica impedido de exercer sua verdadeira essência, o que pode comprometer a saúde emocional do indivíduo.

De acordo com o psicólogo, pesquisas recentes, principalmente na área da genética, indicam que pode haver genes ligados a determinação da orientação sexual hétero ou homo. Desta forma, a pessoa não escolhe ser homossexual.

“A pessoa já nasce com uma suscetibilidade para a orientação e o ambiente a dispara”, conclui Pedrosa, que cita seu livro Garoto Rebelde – Surgimento da homossexualidade na criança, que trata desta questão.

Os desafios enfrentados pelos jovens não se restringem aos garotos. Andréia Lima (nome fictício), 22 anos, estudante de psicologia, namora com uma menina há quatro anos. Ela queria contar aos pais sobre a orientação sexual, mas resolveu esperar a hora certa.

Segundo ela, não queria apenas chegar e falar, “Alô, pai e mãe, curto mulher!”. A garota diz que a namorada sempre frequentou sua casa e não entendia por que os pais nunca desconfiaram de nada. No entanto, seu irmão que também é homossexual, revelou a seus pais sobre sua condição e a da irmã.

“Quando meus pais  descobriram, ficaram muito tristes. Minha mãe me expulsou de casa, fiquei muito chateada com meu irmão porque ele não respeitou meu tempo. Minha namorada deixou de ir em minha casa, daí passamos a nos encontrar às escondidas. Foi uma situação muito chata, cheguei a pensar em terminar o namoro, mas nosso amor falou mais alto”, conta.

Hoje, elas se vêem na casa da namorada. A mãe da parceira  aceitou o namoro. O pai também. Andréia, no fim, diz que já se envolveu com homens, mas foi com garotas que se sentiu mais segura, encontrou companheirismo, amor e amizade.

Descobrir-se homossexual não é tarefa fácil. Muitos preferem sofrer em silêncio e as palavras de Marcondes servem de estímulo para os que sofrem com o dilema: "Quem revela para mundo o que realmente é, pode aproveitar melhor a vida e conhecer o verdadeiro sentido da palavra liberdade".

Homossexualidade entre artistas

   A dificuldade de se assumir gay não assombra somente “pessoas comuns”, mas também costuma circular entre o mundo dos famosos.

   Aclamado e desejado por várias mulheres, o cantor latino Ricky Martin, recentemente se declarou homossexual, após uma vida inteira “dentro do armário”. “Neste momento, eu estou sentindo a mesma liberdade que costumo sentir só no palco. Sem dúvida, eu preciso compartilhar”, escreveu o astro pop no seu site, quando oficializou ser gay.

   E ele não é o único. O ator T.R Knight, conhecido como o ‘Dr. George O’Malley’ do seriado “Grays Anatomy”, também se assumiu para a sociedade como homossexual convicto. “Espero que isso não se torne a parte mais interessante sobre mim”, afirmou Knight para a revista People.

   Já o ator e humorista Evandro Santos, que faz o personagem Cristian Pior do programa “Pânico na TV”, não teve problema de se assumir publicamente. Porém, enfrentou o preconceito dentro da própria família. Aos 14 anos, após muitas brigas com a mãe e o padrasto que não aceitavam sua homossexualidade, o ator resolveu ir embora. E só depois de 20 anos longe de casa, reencontrou sua mãe, que resolveu aceitar sua orientação sexual.

   No cenário musical brasileiro, também há artistas que assumiram a homossexualidade. Neste ano, a cantora de MPB, Adriana Calcanhoto, oficializou a relação com a cineasta Suzana de Moraes, filha do cantor e compositor Vinicius de Moraes. As companheiras realizaram uma cerimônia e festa para comemorar, após declararem a união civil na Justiça.
Reportagem Especial: Sou gay, e daí? Reportagem Especial: Sou  gay,  e daí? Reviewed by Diego Martins on 12/10/2010 03:06:00 PM Rating: 5

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