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Telenotícias Entrevista: O homem que sonha socializar o Brasil

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As opiniões de quem acredita na possibilidade de uma sociedade não-capitalista

Por Alisson Matos
Colaborou: Diego Martins

(Foto: Renato de Sousa/Câmara Municipal de SP)
Para ele, o Brasil deve ser: Socialista, próspero e independente
O candidato à Presidência pelo PSOL nas últimas eleições é daqueles que concede entrevista na própria casa. Plínio de Arruda, nascido em 1930, formado em Direito na USP na década de 1950, reside no Alto de Pinheiros, bairro nobre de São Paulo. Morador de uma mansão que contradiz com o discurso igualitário que tem para o país, o simpático senhor, acompanhado da empregada e ao lado de dois carros de luxo, responde ao fim da entrevista, de forma clara e objetiva, a indagação sobre o seu patrimônio. “Só socializarei meus bens quando o país for comunista”.

Qual análise o senhor faz das eleições 2010 e a sua participação nela? 
Foi uma eleição montada para impedir o debate político. A TV ficou aberta só para os candidatos do sistema, além de uma série de exigências burocráticas, que dificultou para os partidos pequenos. Não queriam o debate. A estratégia do PSOL foi participar e eu lutei feito um leão. Venci a barreira e fui para os debates. Neles, eu realizei um discurso que nunca havia sido feito na história do Brasil: Apresentar o socialismo ao conjunto da população, porque até então nenhum partido tinha conseguido fazer. Propus isso ao Lula em 1998, ele ficou impressionado, mas não teve a coragem. Ele fez aquele discurso eleitoreiro de promessas, disse que o socialis--mo tirava voto, e tira mesmo. Resolvi fazer e resultado foi o que eu esperava. Não poderia ter tido muitos votos por que o Brasil não está habituado a ouvir uma proposta revolucionária. O eleitor assusta, porém também gosta e fica com ela na sua memória.

O senhor tem alguma queixa da TV e da imprensa de um modo geral? 
Eu fui censurado. Fizeram vários debates que eu não fui convidado. O noticiário não me cobria. E isso é pior do que um ataque. Porque se você não é nem divulgado e seu pensamento não sai para a população, você está fora da jogada. E está foi a maior dificuldade que eu tive.

Para o senhor a imprensa é uma arma do capitalismo? 
A burguesia brasileira tem sempre medo do levante popular.Porque ela tem consciência de que se o povo vier a fazer com ela, o que ela faz com o povo - a vida dela seria miserável. Então mesmo quando o povo está quieto, ela segue apavorada.

O presidente Hugo Chavez fechou o maior canal de TV da Venezuela, aqui no Brasil isso seria bom ou ruim?
Lá, o canal não era um meio de comunicação e sim uma conspiração para derrubar o Chavez. Ele usou uma arma legal para fechar. Aqui no Brasil deveria ter uma intervenção. Por isso, eu defendo um Conselho de Comunicação, que aliás está na Constituição, artigo 224. O que não é censura, e sim uma orientação política e geral sobre o canal concessionário. Porque censura quem faz hoje é a própria TV. Ela molda um estilo de vida burguês. Por exemplo, toda empregada doméstica é negra. Ela coloca que o empresário pode ser bom ou ruim e que não é o capitalismo que é mau. Tudo isso fixa na cabeça do povo e seria discutido num conselho pluralista.

O senhor é contra ou a favor do aborto?
Como cristão eu sou contra. Como governante não poderia impor uma conduta que decorre da minha fé a pessoas que não têm a minha essência. Eu vivo numa sociedade pluralista e o aborto é um problema social. Milhares de moças morrem todos os anos. O que eu proponho é legalizar, o que não é a mesma coisa que descriminalizar, e não é a mesma coisa que liberar total. É colocar sob o controle da lei. A mulher que quiser vai ao juiz e ele analisa duas coisas: Se ela não está sendo coagida e se está com consciência do que está fazendo, porque o aborto sempre deixa sequelas na mulher. Se ele verificar que nos dois quesitos ela responde positivamente, a decisão é dela. Porque a mulher tem que ser dona do seu corpo. Não podemos usar a gravidez como um fator de dominação machista sobre a mulher.

Sobre a legalização da maconha, qual a sua posição? 
Consultei vários especialistas. Todos eles me disseram o seguinte: A maconha é uma droga cultural como o cigarro, a bebida, ambos levam ao vício, mas não imediatamente. A dependência que gera não é tanto pela droga. É uma fuga psicológica que precisa de tratamento. É diferente da droga química, como ópio e o crack. Eu analisei que, se nós tirarmos a droga cultural da repressão, fica claro que poderíamos bater muito mais forte no crack e nas outras. E estas sim, são uma forma de lavar dinheiro. O narcotráfico é um empregado do capitalismo. É necessário legalizar, registrar. Por exemplo, no local a ser criado para o consumo, não poderia entrar menor de 21 anos, não poderia ser perto de escola, não poderia ficar aberto até certas horas... Se você fiscaliza, você vai ter produtor de maconha e comerciante.

Falta união dos partidos de esquerda. O senhor acha que isso tem sido um problema para que o socialismo não tenha sido implantado até hoje aqui?
O problema é inerente a esquerda e até certo ponto insolúvel, e nunca vai ter uma solução definitiva. Os socialistas são muito ideológicos e quando eles têm uma ideia, se apaixonam por ela. Na direita não é bem assim, porque ali é conveniência, são negócios e rapidamente se faz um acerto e resolve o problema.

O senhor acha que o sistema prefere não investir em educação para que a população fique alienada? 
É evidente. Não existe o menor interesse em fazer uma educação pública de qualidade, e desta forma é possível continuar explorando.

E o Governo Lula, qual é a sua avaliação? 
Ele tem um aspecto positivo porque faz assistencialismo. Mas o negativo é que ele faz isso como um instrumento de dominação. Ele divide e reduz a pressão popular.

O brasileiro deve acreditar num país mais justo? 
Tem tudo para acreditar. Se existe um país que pode ser justo com muita facilidade é o nosso. Porque a riqueza aqui é imensa em se tratando de recursos naturais. Só precisamos distribuir melhor isso.

E qual seria o primeiro passo para que essa igualdade chegue ao Brasil? 
O primeiro passo é uma Reforma Agrária radical que eu propus na minha campanha. É uma medida anti-capitalista, ela tira a terra do proprietário e dá a outro. Eu não estou propondo uma organização socialista no campo. Isto só será possível quando o Brasil for socialista, enquanto não for é necessário uma reforma radical que quebre o equilíbrio e gere uma dinâmica de transformação. Eu propus desapropriar todo o imóvel de mais de 1.000 hectares, produtivo ou não. Impreterivelmente nas áreas produtivas, porque imediatamente os agricultores que tomarem posse estarão produzindo. Então vai ter uma abundância enorme de alimentos.

Qual seria o Brasil ideal? 
Socialista, próspero e independente.

Para isso, o que o brasileiro precisa fazer? 
Ele precisa fazer política. Precisa entrar em um partido. Ninguém pode entender o país se não estiver num partido político. Não tem como  compreender a realidade se não for desta forma, nem que ele leia e estude tudo. É necessário fazer política para entender o país.

Telenotícias Entrevista: O homem que sonha socializar o Brasil Telenotícias Entrevista: O homem que sonha socializar o Brasil Reviewed by Diego Martins on 11/28/2010 09:42:00 AM Rating: 5

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