Conheça o baiano que abalou as estruturas da música brasileira
(Atenção: As falas do cantor para compor este perfil foram retiradas do site "Imprensa Rocker", para o qual Marcelo Nova concedeu uma entrevista)
Por Érika Cabral
(Foto: revistaexclusiva.com.br)
Marcelo Nova é o tipo de pessoa que tem muita história para contar, e poucas “papas na língua” para falar. Nascido em 16 da agosto de 1951, em Salvador, seu propósito como músico era tirar a Bahia do marasmo musical que havia se instalado no Estado na década de 80. “Eu queria esculhambar a cena cultural baiana, que é uma farsa completa. Depois eu descobri que o Brasil é uma grande Bahia”, diz o cantor.
Diferente de grande parte dos meninos, Marcelo Nova não se interessava por futebol, praia ou clube. Seu “lance” sempre foi a música, gostava mesmo era de ficar no quarto, com uma vitrolinha, escutando Bob Dylan, Sex Pistols, Clash, Nelson Gonçalves, e, é claro, Raul Seixas. Tudo que escutava lhe serviu de bagagem e influência, que ele sabia que um dia iria usar, mas não sabia exatamente quando isso iria acontecer.
A oportunidade veio quando Marcelo começou a trabalhar em uma rádio, e conheceu o movimento Punk Rock. O músico percebeu que não precisava encontrar nenhum Jimmy Page, Jeff Beck ou Ian Paice em plena Bahia, mas que era possível, sem nenhuma experiência no ramo musical, fazer algum barulho no qual pudesse colocar suas letras em cima. “E então, com o surgimento do Punk, eu percebi que poderia criar um mata-borrão sonoro sobre o qual derramaria meus textos”, relata o cantor.
Camisa de Vênus
Como sempre diferente, Marcelo Nova iniciou o projeto de montar um grupo musical não aos 15 ou 16 anos, como a maioria dos cantores. Já estava no auge dos seus 30 anos quando, na década de 1980, surge o Camisa de Vênus. A formação original era composta por Robério, Karl, Gustavo e Marcelo.
Na verdade, nada foi planejado. Marcelo pretendia montar uma banda, e chamou Robério para tocar com ele (já o conhecia dos tempos em que trabalhava na rádio), o Camisa já tinha um baixista. Robério chamou Karl para ser guitarrista, que chamou Gustavo, outro guitarrista. “Um conhecia o outro, que conhecia o outro, e ninguém se conhecia entre si. As coisas foram acontecendo de uma maneira totalmente anti-profissional”, lembra Marcelo.
O nome do conjunto também surgiu de uma forma tanto quanto bizarra. Segundo Marcelo, a ideia aconteceu por acaso em um dos ensaios. Algumas pessoas iam assistir aos ensaios e não estavam acostumadas com aquele tipo de som que surgia para “esculhambar” com a música da Bahia, então saiam reclamando que aquele barulho era desconfortável. Marcelo fez uma analogia, e associou o nome da banda ao preservativo, e a partir daí surge o nome Camisa de Vênus.
Em 1982, o grupo começa a gravar seu primeiro compacto, que continha duas músicas, Controle total e Meu primo Zé. Inicialmente quem mostrou interesse em gravar uma música do Camisa foi um baiano dono de um selo chamado NN discos. Marcelo queria que seu primeiro compacto tivesse uma música que realmente mostrasse o que ele pensava sobre a Bahia, e era disso que se tratava a música Controle Total.
Os baianos vieram pra São Paulo e, surpreendentemente, o disco seria lançado por uma grande gravadora, a Som Livre. Mas, o nome da banda sempre causava desconforto para a imprensa, que nunca sabia como deveria se referir a ela, uma vez que Camisa de Vênus tinha uma conotação pornográfica para a época. Então em uma famosa reunião, os diretores da Som Livre pediram para que o nome do conjunto fosse mudado, pois com esse nome seria difícil trabalhar na divulgação do compacto, sendo assim, Marcelo Nova propõe uma das melhores alternativas, que tal ao invés de Camisa de Vênus, eles se chamassem: “Capa de Pica”. “E fomos gloriosamente expulsos da gravadora”, relembra o cantor.
Depois desse episódio, a formação original do Camisa de Vênus ainda gravou mais cinco albuns: Camisa de Vênus (1983), Batalhões de estranhos (1984), Viva (1985), Correndo Risco (1986) e o último Duplo sentido (em 1987). Eles perceberam que estavam fazendo sucesso quando alcançaram a marca de 300 mil discos vendidos, os shows passaram a ser para elite paulistana, ou para as “patricinhas dos Jardins”, e a música Só o fim, do penúltimo álbum, passou a ser umas das mais executadas nas rádios. Nessa época, Marcelo percebeu que era a hora de tomar novos rumos, e em 1987 comunicou aos outros integrantes sua saída do Camisa de Vênus. “Naquela altura eu já tinha uns 35 anos e queria minha carreira de homem, individuo, sem banda. Isso é coisa para adolescente, que quer pertencer a um grupo, andar em bando, vestir jeans, usar camiseta preta, fazer parte de um clube. Eu não queria mais fazer parte de clube nenhum. Já tinha ido ao clube, já tinha mijado na piscina do clube e já queria ir embora”, disse o cantor sobre sua saída.
Seis anos mais tarde eles voltariam a se reunir para uma pequena turnê pelo país. Em 1995, já com uma formação diferente o grupo volta a gravar, trazendo Franklin no lugar de Aldo, e Carlini no lugar de Gustavo. O CD se chamaria Plugado, e traria gravações ao vivo até que a banda se preparasse para entrar em estúdio. Em 1996, quase dez após o último álbum de inéditas, Marcelo Nova e o Camisa lançam Quem é você?. Depois disso o conjunto não voltou a se reunir e, apesar de não sentir saudade o cantor tem orgulho de ter feito feito parte dela em seu inicio de carreira. “O Camisa é meu autorama. Eu gosto de armar a pista, botar os carrinhos para correr, mas depois de dois dias perde a graça. É brincadeira de menino”. E depois que a brincadeira acaba, é hora de tocar novos projetos e novas parcerias.
Raul e Marceleza na 'Panela do Diabo'
Marcelo já acompanhava a trajetória de Raul desde os tempos de garoto na Bahia. Lembra que Raulzito e os Panteras foi o primeiro grupo de Rock que viu no palco, e quem lhe inspirou a montar uma banda também. “Foi mais ou menos em 1965. Eu tinha 14 anos. Eles tocavam numa feira de indústria e tecnologia na Bahia, as meninas de minissaia apresentavam as novas tecnologias em liquidificadores, geladeiras, enceradeiras, depois vinha o show de Raulzito e Os Panteras. E eu ficava na fila do gargarejo. Eles foram meus Beatles. Você está entendendo? A primeira vez que vi um conjunto de rock ao vivo, não tinha MTV, não tinha Internet, não tinha clipe e a banda que eu ouvi no palco, foram Os Panteras. Eu era moleque, eles comiam as meninas todas. E eu não comia ninguém! Então era necessário ter um grupo de Rock também!”, lembra o cantor.
O que o roqueiro ainda não sabia nessa época era que ídolo viraria fã, amigo e parceiro musical. O primeiro contato de fato entre Raul e Marcelo aconteceu em um dos shows do Camisa de Vênus, no Circo Voador. O vocalista não acreditava que, de fato, Raul estaria lá, mas ele estava, e mais, subiu no palco e os dois tocaram pela primeira vez juntos um medley de canções dos anos 50. A partir daí surgiu uma amizade que culminaria em parceria na música, diga-se de passagem, Marcelo foi o único cantor a de fato subir no palco com Raul, e vice-versa. Juntos, eles fizeram mais de 50 shows, e o álbum A panela do diabo.
Em 1989, Raulzito já se encontra depressivo, e desacreditado do cenário musical brasileiro. Muitos haviam esquecido a importância que o “Maluco Beleza” representava para o Rock nacional, mas Marceleza estava ao seu lado, e juntos eles formaram a Panela do Diabo. O disco era composto de músicas que diziam muito sobre o momento vivido pelos cantores, aliás, dificilmente Marcelo se distancia de suas composições. É como se sua música fosse um retrato da vida ou uma autobiografia. “A Panela do Diabo foi um álbum autobiográfico, um ‘hara kiri’ psicológico. Vertemos sangue, vísceras, prazer, dor, sarcasmo e desejos, não necessariamente nessa ordem. Raul deu o nome ao disco, afirmando que nesta panela estaria o ponto de fusão”, diz Marcelo sobre o CD que foi lançado dois dias antes da morte de Raul Seixas.
Marceleza, o descamisado
Depois de seis anos como Camisa de Vênus, Marcelo decidiu que já era hora de seguir carreira solo. Tinha o desejo de trilhar para novos rumos e, a relação com o grupo já estava abalada, chegou uma hora que cada um queria uma coisa e ninguém mais entrava em consenso. O Camisa já tinha alcançado sucesso, agora era é hora de mudar, de parar de brincar de autorama, e se tornar um cantor sozinho. “O que quero dizer quando falei que o Camisa é meu autorama, é que ele está ligado diretamente ao meu início de carreira, quando eu sonhava em ter uma banda”, diz Marcelo, depois de se tornar um “descamisado”.
Em 1988, o cantor lançou seu primeiro álbum solo sob o título de Marcelo Nova e a Envergadura Moral. Totalmente diferente do som que produzia com o Camisa de Vênus, repleto de baladas, trazia o lado tranquilo do cantor. Já em 1989, intensifica a parceira com Raul e lança “Panela do Diabo”.
Marcelo, como já diz o nome, tem sempre coisas novas para mostrar. Antes mesmo do acústico virar moda, ele lançou Blackout, primeiro álbum inteiramente acústico já produzido. “Sempre fui o cara da linha de frente, e de uma hora para outra eu estava sentado numa cadeira tocando violão. Comecei a achar que tinha algo ali no som que me interessava, aí resolvi fazer um disco acústico quando era uma ousadia completa”, comenta Marceleza.
O próximo CD viria para ser o avesso do acústico. Em 1994, o músico baiano lança o disco Sessão sem fim, repleto de músicas rápidas e de um som pesado, intensificado pela guitarra de Luís Carlini. Neste disco, Marcelo tenta retomar a música que fazia anos antes, mas de uma maneira diferente da que tocava no Camisa de Vênus, no qual voltaria a parceria para fazer mais dois CD’s.
Marcelo Nova passou mais de 10 anos para lançar um álbum de inéditas. O Galope do Tempo demorou 13 anos para ficar pronto. Isso não quer dizer que o músico ficou parado, mas mostra que ele só diz algo quando acredita que tem que dizer, e não seria o mercado fonográfico que iria impor isso a ele. Entre Quem é você e o trabalho lançado em 2006, Marceleza fez shows, produziu um álbum ao vivo e uma coletânia chamada Tijolo na Vidraça (mostrando que o mundo dá voltas. Quem lançou esse trabalho de Marcelo foi a Som Livre, àquela que tinha expulsado ele na época do “Capa de Pica”). O Galope do tempo traz muito da visão que o músico tem sobre o Céu e o Inferno, o ocultismo, as incertezas e o inatingível. O disco é um tanto quanto mórbido e leva a crer que retrata mais uma das fases vividas pelo cantor.
Desde os tempos do Camisa, Marcelo queria ir contra o fluxo, seu objetivo era fazer música, não fazer sucesso. Quando a maioria das bandas fazia de tudo para aparecer no programa do Chacrinha e tentava fazer um som que agradasse ao mercado fonográfico, Marcelo queria mesmo era integrar o time que está perdendo, a verdadeira intenção era “botar para foder”, primeiro com o cenário musical baiano, para depois partir para algo maior e “esculhambar” com todo o cenário brasileiro. E é isso que ele faz até hoje. Dentro no cenário independente enfrenta a dificuldade de quem está fora da indústria musical. Nem sempre seus shows são lotados. Existe um bom preço a se pagar por não aparecer no programa do Faustão.
Marcelo Nova não se encaixa em nenhuma das atuais vertentes do rock nacional. “A minha tribo é dos moicanos. E eu sou o último e me relaciono bem com minha solidão”, diz ele sobre ser o único que restou de um movimento musical que ficou lá para trás. Para Marceleza, a parte dele já foi feita, agora torce para que surja algum garoto que “toque fogo”, que assim como ele, também faça sua parte. “Eu torço para aparecer algum moleque que dê um chute no saco do Gugu Liberato, mas só aparece garoto comportadinho, que de rebelde só tem a cor do cabelo ou um monte de piercings(...). Eu não me interesso pelo novo rock nacional e mundial”, exclama ele sobre sua vontade de que alguém venha para “esculhambar”, com a falsa rebeldia que se instaurou no rock atual.
(Atenção: As falas do cantor para compor este perfil foram retiradas do site "Imprensa Rocker", para o qual Marcelo Nova concedeu uma entrevista)
Por Érika Cabral
(Foto: revistaexclusiva.com.br)
“A minha tribo é dos moicanos. E eu sou o último e me relaciono bem com minha solidão” |
Diferente de grande parte dos meninos, Marcelo Nova não se interessava por futebol, praia ou clube. Seu “lance” sempre foi a música, gostava mesmo era de ficar no quarto, com uma vitrolinha, escutando Bob Dylan, Sex Pistols, Clash, Nelson Gonçalves, e, é claro, Raul Seixas. Tudo que escutava lhe serviu de bagagem e influência, que ele sabia que um dia iria usar, mas não sabia exatamente quando isso iria acontecer.
A oportunidade veio quando Marcelo começou a trabalhar em uma rádio, e conheceu o movimento Punk Rock. O músico percebeu que não precisava encontrar nenhum Jimmy Page, Jeff Beck ou Ian Paice em plena Bahia, mas que era possível, sem nenhuma experiência no ramo musical, fazer algum barulho no qual pudesse colocar suas letras em cima. “E então, com o surgimento do Punk, eu percebi que poderia criar um mata-borrão sonoro sobre o qual derramaria meus textos”, relata o cantor.
Camisa de Vênus
Como sempre diferente, Marcelo Nova iniciou o projeto de montar um grupo musical não aos 15 ou 16 anos, como a maioria dos cantores. Já estava no auge dos seus 30 anos quando, na década de 1980, surge o Camisa de Vênus. A formação original era composta por Robério, Karl, Gustavo e Marcelo.
Na verdade, nada foi planejado. Marcelo pretendia montar uma banda, e chamou Robério para tocar com ele (já o conhecia dos tempos em que trabalhava na rádio), o Camisa já tinha um baixista. Robério chamou Karl para ser guitarrista, que chamou Gustavo, outro guitarrista. “Um conhecia o outro, que conhecia o outro, e ninguém se conhecia entre si. As coisas foram acontecendo de uma maneira totalmente anti-profissional”, lembra Marcelo.
O nome do conjunto também surgiu de uma forma tanto quanto bizarra. Segundo Marcelo, a ideia aconteceu por acaso em um dos ensaios. Algumas pessoas iam assistir aos ensaios e não estavam acostumadas com aquele tipo de som que surgia para “esculhambar” com a música da Bahia, então saiam reclamando que aquele barulho era desconfortável. Marcelo fez uma analogia, e associou o nome da banda ao preservativo, e a partir daí surge o nome Camisa de Vênus.
Em 1982, o grupo começa a gravar seu primeiro compacto, que continha duas músicas, Controle total e Meu primo Zé. Inicialmente quem mostrou interesse em gravar uma música do Camisa foi um baiano dono de um selo chamado NN discos. Marcelo queria que seu primeiro compacto tivesse uma música que realmente mostrasse o que ele pensava sobre a Bahia, e era disso que se tratava a música Controle Total.
Os baianos vieram pra São Paulo e, surpreendentemente, o disco seria lançado por uma grande gravadora, a Som Livre. Mas, o nome da banda sempre causava desconforto para a imprensa, que nunca sabia como deveria se referir a ela, uma vez que Camisa de Vênus tinha uma conotação pornográfica para a época. Então em uma famosa reunião, os diretores da Som Livre pediram para que o nome do conjunto fosse mudado, pois com esse nome seria difícil trabalhar na divulgação do compacto, sendo assim, Marcelo Nova propõe uma das melhores alternativas, que tal ao invés de Camisa de Vênus, eles se chamassem: “Capa de Pica”. “E fomos gloriosamente expulsos da gravadora”, relembra o cantor.
“Viva” - terceiro ábum da banda Camisa de Vênus, lançado em 1985 |
Seis anos mais tarde eles voltariam a se reunir para uma pequena turnê pelo país. Em 1995, já com uma formação diferente o grupo volta a gravar, trazendo Franklin no lugar de Aldo, e Carlini no lugar de Gustavo. O CD se chamaria Plugado, e traria gravações ao vivo até que a banda se preparasse para entrar em estúdio. Em 1996, quase dez após o último álbum de inéditas, Marcelo Nova e o Camisa lançam Quem é você?. Depois disso o conjunto não voltou a se reunir e, apesar de não sentir saudade o cantor tem orgulho de ter feito feito parte dela em seu inicio de carreira. “O Camisa é meu autorama. Eu gosto de armar a pista, botar os carrinhos para correr, mas depois de dois dias perde a graça. É brincadeira de menino”. E depois que a brincadeira acaba, é hora de tocar novos projetos e novas parcerias.
Raul e Marceleza na 'Panela do Diabo'
Raul e Marcelo - amigos na vida e parceiros na música |
O que o roqueiro ainda não sabia nessa época era que ídolo viraria fã, amigo e parceiro musical. O primeiro contato de fato entre Raul e Marcelo aconteceu em um dos shows do Camisa de Vênus, no Circo Voador. O vocalista não acreditava que, de fato, Raul estaria lá, mas ele estava, e mais, subiu no palco e os dois tocaram pela primeira vez juntos um medley de canções dos anos 50. A partir daí surgiu uma amizade que culminaria em parceria na música, diga-se de passagem, Marcelo foi o único cantor a de fato subir no palco com Raul, e vice-versa. Juntos, eles fizeram mais de 50 shows, e o álbum A panela do diabo.
Em 1989, Raulzito já se encontra depressivo, e desacreditado do cenário musical brasileiro. Muitos haviam esquecido a importância que o “Maluco Beleza” representava para o Rock nacional, mas Marceleza estava ao seu lado, e juntos eles formaram a Panela do Diabo. O disco era composto de músicas que diziam muito sobre o momento vivido pelos cantores, aliás, dificilmente Marcelo se distancia de suas composições. É como se sua música fosse um retrato da vida ou uma autobiografia. “A Panela do Diabo foi um álbum autobiográfico, um ‘hara kiri’ psicológico. Vertemos sangue, vísceras, prazer, dor, sarcasmo e desejos, não necessariamente nessa ordem. Raul deu o nome ao disco, afirmando que nesta panela estaria o ponto de fusão”, diz Marcelo sobre o CD que foi lançado dois dias antes da morte de Raul Seixas.
Marceleza, o descamisado
Depois de seis anos como Camisa de Vênus, Marcelo decidiu que já era hora de seguir carreira solo. Tinha o desejo de trilhar para novos rumos e, a relação com o grupo já estava abalada, chegou uma hora que cada um queria uma coisa e ninguém mais entrava em consenso. O Camisa já tinha alcançado sucesso, agora era é hora de mudar, de parar de brincar de autorama, e se tornar um cantor sozinho. “O que quero dizer quando falei que o Camisa é meu autorama, é que ele está ligado diretamente ao meu início de carreira, quando eu sonhava em ter uma banda”, diz Marcelo, depois de se tornar um “descamisado”.
Em 1988, o cantor lançou seu primeiro álbum solo sob o título de Marcelo Nova e a Envergadura Moral. Totalmente diferente do som que produzia com o Camisa de Vênus, repleto de baladas, trazia o lado tranquilo do cantor. Já em 1989, intensifica a parceira com Raul e lança “Panela do Diabo”.
Marcelo, como já diz o nome, tem sempre coisas novas para mostrar. Antes mesmo do acústico virar moda, ele lançou Blackout, primeiro álbum inteiramente acústico já produzido. “Sempre fui o cara da linha de frente, e de uma hora para outra eu estava sentado numa cadeira tocando violão. Comecei a achar que tinha algo ali no som que me interessava, aí resolvi fazer um disco acústico quando era uma ousadia completa”, comenta Marceleza.
O próximo CD viria para ser o avesso do acústico. Em 1994, o músico baiano lança o disco Sessão sem fim, repleto de músicas rápidas e de um som pesado, intensificado pela guitarra de Luís Carlini. Neste disco, Marcelo tenta retomar a música que fazia anos antes, mas de uma maneira diferente da que tocava no Camisa de Vênus, no qual voltaria a parceria para fazer mais dois CD’s.
Marcelo Nova passou mais de 10 anos para lançar um álbum de inéditas. O Galope do Tempo demorou 13 anos para ficar pronto. Isso não quer dizer que o músico ficou parado, mas mostra que ele só diz algo quando acredita que tem que dizer, e não seria o mercado fonográfico que iria impor isso a ele. Entre Quem é você e o trabalho lançado em 2006, Marceleza fez shows, produziu um álbum ao vivo e uma coletânia chamada Tijolo na Vidraça (mostrando que o mundo dá voltas. Quem lançou esse trabalho de Marcelo foi a Som Livre, àquela que tinha expulsado ele na época do “Capa de Pica”). O Galope do tempo traz muito da visão que o músico tem sobre o Céu e o Inferno, o ocultismo, as incertezas e o inatingível. O disco é um tanto quanto mórbido e leva a crer que retrata mais uma das fases vividas pelo cantor.
Desde os tempos do Camisa, Marcelo queria ir contra o fluxo, seu objetivo era fazer música, não fazer sucesso. Quando a maioria das bandas fazia de tudo para aparecer no programa do Chacrinha e tentava fazer um som que agradasse ao mercado fonográfico, Marcelo queria mesmo era integrar o time que está perdendo, a verdadeira intenção era “botar para foder”, primeiro com o cenário musical baiano, para depois partir para algo maior e “esculhambar” com todo o cenário brasileiro. E é isso que ele faz até hoje. Dentro no cenário independente enfrenta a dificuldade de quem está fora da indústria musical. Nem sempre seus shows são lotados. Existe um bom preço a se pagar por não aparecer no programa do Faustão.
Mesmo fora da indústria musical, Marcelo Nova ainda “ainda bota para foder” |
Marcelo Nova, o senhor rock’n’roll
Reviewed by Diego Martins
on
11/30/2010 03:22:00 PM
Rating:
Nenhum comentário
Fale com a redação: contato@portaltelenoticias.com