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Especial cronistas: O cronista da vida

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Por Anderson Sousa

(Foto: reprodução da Internet)
Fernando Sabino: otimista incorrigível
Em 12 de outubro de 1923 nasce em Belo Horizonte um libriano que marcaria seu nome eternamente nas páginas da literatura brasileira: Fernando Sabino. Um homem dividido em mundos paradoxos. Ora metódico, ora confuso; ora atento, ora distraído; ora homem, ora menino.

Cronista de primeira classe e dono de um senso de humor finíssimo, conseguiu divertir e sensibilizar através das palavras. Com pessoas comuns e acontecimentos corriqueiros mostrou a beleza, o encanto e a graça da vida. Contou em crônicas o mundo que conheceu através das viagens.

Otto Lara Resende, um de seus melhores amigos de toda vida, disse: “O Fernando era muito precoce. E continua”. De fato, Sabino foi precoce. Logo aos 14 anos já tinha publicado seu primeiro trabalho literário, o conto policial Uma Ameaça de Morte. Em 1941, ao mesmo tempo em que entra para a Faculdade de Direito, tem seu primeiro livro lançado, a reunião de contos Os Grilos Não Cantam Mais.

Como estímulo para sua recém iniciada carreira literária, recebe cartas do paulista Mário de Andrade: “(...) Ora, Fernando, pra agüentar com um destino desses, antes de mais nada, é preciso ter uma ambição enorme, uma paciência enraivecida, um desejo de se “vingar” da vida, e uma ensolarada saúde mental. Você tem isso? ”. Posteriormente integraram o livro Cartas A Um Jovem Escritor (1982) e que em 2003 foi acrescido de E Suas Respostas.

Durante a estadia de dois anos nas terras do tio Sam, começa a saborear escritos de língua inglesa e escrever crônicas sobre o tal american way of life (estilo de vida americano), reunidos e lançados em seu primeiro livro de crônicas, A Cidade Vazia, de 1950. Para o militante político esquerdista e jornalista Werneck de Castro, os textos retratam perfeitamente os feitos do capitalismo americano da época: “A Cidade Vazia traz um testemunho positivo sobre a desumanização em massa que o capitalismo norte americano elevou ao mais alto grau de crueldade e perfeição técnica.”

Como exemplo de seu talento de cronista e mostra de sua vida nos Estados Unidos, vale ler Jimmy Jones, presente no livro O Homem Nu (1960). Jimmy, um ex-jazzista de quem logo se torna amigo: “Até hoje, quando me lembro de Jimmy Jones sinto um aperto no coração. Desses remorsos que, se não chegam a doer como remorso, continuam a incomodar-nos a consciência para o resto da vida”, lembra o Sabino na crônica.

Sabino não é só exemplo perfeito e irretocável de um grande cronista, mas também de um excelente romancista. Com O Encontro Marcado (1956) ele abre caminho no Brasil para o chamado romance de geração.

O escritor Humberto Werneck disse certa vez: “Se todo romancista fizesse um romance da envergadura de O Encontro Marcado, o Brasil teria a maior literatura do mundo”. No livro, Sabino fala de si mesmo, mas sob o “disfarce” de Eduardo Marciano, o personagem central e narrador da história que conta sua trajetória da infância à vida adulta, ao mesmo tempo em que traduz os anseios, as angústias ideológicas e políticas e as em inquietações pessoais da juventude da época. "Foram anos de aflição, como a daquele homem que procurava no mundo inteiro um fruto, sem saber que estava justamente na árvore do seu quintal. (...)”.

Com o enorme sucesso começou a se sentir pressionado a fazer outra obra-prima: “As pessoas me cobravam, me interpelavam agressivamente, exigindo: "Você que escreveu o livro dos nossos trinta anos, tem a obrigação de nos dar o livro dos nossos quarenta” ao que replicava: “Não escrevi o livro dos nossos trinta anos e sim dos meus. Por que você não escreve o seu?”. Foi essa cobrança que retardou em 33 anos o lançamento de seu romance, O grande Mentecapto (1976).

Otimista incorrigível procurava sempre o lado bom das coisas, para ele, as pequenas coisas são donas de grande importância. Para a filha Verônica Sabino dizia que: “O otimista, ao contrário do pessimista só sofre uma vez”. Era tão de bem com a vida que em 1998 a editora Record lançou um sucesso de crítica e público, a reunião de crônicas e histórias No Fim da Certo – “se não deu certo é porque não chegou ao fim”.

Já faz seis anos que o mundo é menos feliz. Em outubro de 2004, às vésperas de completar 81 anos, Fernando Sabino faleceu. Os textos inspiradores, divertidos e delicados que só um mestre das palavras é capaz de fazer estão por aí contando, encantando e divertindo a vida de leitores mundo afora. Porque se tem algo que pode ser dito de Fernando Sabino é que ele foi um contador de histórias, ele foi um cronista da vida.
Especial cronistas: O cronista da vida Especial cronistas: O cronista da vida Reviewed by Diego Martins on 10/26/2010 03:10:00 PM Rating: 5

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