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Crônica: Choveu hoje em São Paulo...

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Por Danilo Quintal

(Imagem: reprodução da Internet)
E a chuva atrevida era convidativa...
Para alguns já era fim de tarde, para outros, o começo, outros sinal de um longo dia pela frente, e para alguém como eu, era simplesmente hoje.

Ao caminhar para executar um ato cotidiano: higiene bucal - os pingos de chuva e as nuvens que se uniam calmamente durante a tarde se tornaram verdade. Parei e reparei na chuva.

O Sol ainda presente, fraco e se distanciando cada vez mais, era testemunha, e seus raios poderosos, serviam de detalhe, mero coadjuvante. A chuva era por si só.

Segundo o meu calendário a estação dos amores, a que enche as árvores de  flores, do voar dos pássaros, e daqueles que voam mesmo sem ter asas, se iniciava àquela noite. Inverno, estação cinzenta despedia-se entre raios de sol e gotas de chuva, primavera nascia entre raios de luz e gotas de vida...

E chovia...

Para os amantes de música a chuva era como uma sinfonia, um concerto, um refinado jazz tocado por saxofone alternando suas notas, como silhuetas, um solo de rock’n’roll em um baixo, como um pandeiro  e uma sambista, era calma, forte, suave, grossa, rigorosa, manhosa...

As milhares de gotas ao tocar o telhado formavam uma acústica que refugiava os pensamentos, entreteriam, acalmavam, repreendiam, suspiravam.

Para os pintores seriam com uma obra moderna, com efeitos de cores vivas, cores mortas, quentes e frias. Um contraste em preto e branco, de um extremo ao outro. Do equilíbrio do verde a força do vermelho... Um jato de tintas, algo surreal, abstrato, pop, como arco-íris no final!

E a chuva atrevida era convidativa, seduzia o corpo a bailar, uma música clássica, um ballet, talvez. Ou algo mais junto, bolero, tango, sensual, com uma companhia é claro, quem sabe simplesmente a imaginação. Para os ouvidos puros, soava como uma cantiga de ninar, mas tinha algo de popular, os pés eram induzidos ao samba, era possível dançar sem estereotipar...

E para um simples prisioneiro das letras, como me confesso, era inspiração pura, era um cenário, montado para a mais bela cena de amor, de horror, de amizade, de falsidade. Era o final de qualquer história, o começo de qualquer peça, o meio de uma novela. Mas era chuva, fazia barulho, molhava, regava...

E a chuva foi intensa e eterna em meia-hora, como a mais linda história de amor, barulhenta e agitada como a mais horrível guerra, passageira e mortal como uma simples vida humana, e a chuva foi indo, assim, sem dizer para onde ou porque, nem se quer deu “tchau”, e se bem que não precisava... Sobraram marcas! Lembranças, esperança...

Simplesmente, choveu em São Paulo.
Crônica: Choveu hoje em São Paulo... Crônica: Choveu hoje em São Paulo... Reviewed by Diego Martins on 10/23/2010 03:00:00 PM Rating: 5

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