Reportagem Especial: Especialista em dependência química fala sobre o tratamento de usuários

Segundo psiquiatra, a chance de recaída sempre existe

Por Diego Martins

É importante o diálogo com o filho para saber a
 gravidade da situação 

A primeira orientação para os pais que descobrem ter um filho dependente químico é não se desesperar. “Tem que se tomar cuidado com o que é uma dependência e o que é um uso prejudicial”, afirma o psiquiatra Lucas Mattos, especialista em tratamento de dependentes químicos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para ele, muitas vezes o desespero e medidas mais enérgicas podem gerar um conflito ainda maior. A conseqüência disso é um isolamento do filho que está usando a droga, o que pode agravar a situação, quando muitas vezes o que pode estar acontecendo é uma fase de experimentação.

“Acho que em primeiro lugar, quando se existe a possibilidade, os pais devem ter um diálogo com o filho e se acharem necessário devem procurar a orientação de um profissional que tenha experiência na área e assim, ele ajudará os pais na avaliação, para saber qual é a gravidade da situação”, diz Mattos.

Já na questão de existir muitas comunidades na rede social Orkut, onde se tem troca de informações, aconselhamento, ajuda mútua e até propaganda de clínicas especializadas, o psiquiatra explica que é bom ter uma certa cautela.

“Todo Mundo quer uma solução rápida para o problema, isso é um reflexo da cultura em que nós vivemos, então muita gente acaba se aproveitando disso para oferecer essa solução mágica e cobrar por ela. Mas isso não quer dizer que todas as comunidades que oferecem ajuda assim, não sejam sinceras, pertinentes ou assertivas”, afirma.

Ele ressalta que a internação ocorre na maior parte das vezes só no início do tratamento, e por isso é importante um acompanhamento de um profissional especializado e que o usuário passe a frequentar uma comunidade de auto-ajuda, como o AA (Alcoólicos Anônimos) ou NA (Narcóticos Anônimos).

De acordo com o especialista, quando a pessoa sai da internação ela precisa de um tratamento de dependência química, que é uma condição crônica a princípio, como uma hipertensão ou diabetes, por isso, é considerado um tratamento de longo prazo.

“A chance da recaída sempre existe, então as pessoas têm que ter isso em mente. Quando elas pensam na possibilidade de internação, não é o que vai resolver o problema sozinho, ela pode fazer parte de um plano de tratamento”, conclui o psiquiatra.