Por Amanda Cotrim
Hoje eu gostaria de divulgar o email que recebi sobre a questão do diploma do jornalista da revista Caros Amigos, Hamilton Octavio de Souza que também é professor da pós-graduação da PUC.
Leia, releia, pense e só depois formule sua opinião.
Email recebido dia 22/06/09.
Prezada Amanda,
Saudações.
Realmente é uma faca de dois gumes a questão do diploma. Vivo em contradição e em conflito há muitos anos.
Na sexta-feira, dia 19, dei aula no curso de especialização da PUC-SP para 25 jornalistas diplomados, quase todos empregados na área e interessados em se aperfeiçoar. Debatemos a questão do diploma e evidentemente falei que o diploma de curso superior contribuiu para elevar o nível cultural e técnico da categoria profissional, ajudou a definir melhor o perfil dessa categoria (antes o jornalismo era exercido por muita gente de outras profissões - advogados, professores de letras, policiais etc).
No sábado, dia 20, participei de um curso de comunicação popular, organizado pelo Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro, com 32 pessoas de várias comunidades (Rocinha, Maré, Cidade de Deus, Babilônia, Morro do Estado). Passamos o dia debatendo o papel da comunicação na sociedade e elaboramos a pauta de um jornal da comunidade para a comunidade. É claro que não fazia o menor sentido exigir diploma de alguém para essa tarefa política de classe dominada em luta contra a classe dominante.
É claro que o estudo e a pesquisa sobre o jornalismo cresceram muito nos últimos 40 anos; o jornalismo se tornou uma área de conhecimento importante; hoje temos uma boa discussão sobre manipulação e distorção na grande imprensa, a consciência da necessária democratização dos meios, a luta pelo fim dos oligopólios da mídia, a noção de que a ética jornalística deve existir etc etc. Tem muita coisa mesmo em debate - graças às escolas e cursos de jornalismo.
Acho, no entanto, que a exigência do diploma cumpre um papel de colocar um filtro para o ingresso na categoria profissional (elitização se preferir) e fortalecer a luta por jornada e piso diferenciados em relação aos demais trabalhadores da CLT, embora o patronato neoliberal tenha derrubado várias conquistas da categoria nos últimos vinte anos. É claro que o formado em jornalismo tem noções mais claras (e prática laboratorial dependendo da escola) sobre o trabalho jornalístico do que alguém que não passou pelo curso de jornalismo. É claro que conhecemos algumas técnicas mais adequadas para a apuração, redação e edição do material jornalístico. Dependendo do curso, o formado também carrega alguma preocupação ética e sobre o sentido público e social do jornalismo. A existência dos cursos de JORNALISMO abre a possibilidade para que os jornalistas não sejam treinados pelas empresas (veja que horror jornalistas formados pelo Estadão, TV Globo e caterva), não tenham uma visão privatista da comunicação, mas uma formação mais ampla (pública e cidadã) para a sociedade.
Como eu disse no começo, o conflito existe, é claro: de um lado considero o jornalismo uma atividade política importante na luta de classes, e que, portanto, precisa ser apropriada pelo povo e pela classe trabalhadora; de outro lado, a exigência do diploma é uma pequena garantia de que podemos ter um jornalismo melhor do que o praticado pela grande maioria da imprensa brasileira. E ainda tem a questão de que o diploma é mais um argumento contra a super-exploração da mão de obra, já que as empresas só pensam em baixar seus custos e aumentar seus lucros em cima dos trabalhadores.
Espero que eu tenha conseguido aumentar a confusão.
Abraço.
Hamilton.
Em tempo: Sim, sou jornalista formado pela FAAP em 1973 (depois eles fecharam o curso de jornalismo porque era um pessoal que dava muito "trabalho" para eles).
Hoje eu gostaria de divulgar o email que recebi sobre a questão do diploma do jornalista da revista Caros Amigos, Hamilton Octavio de Souza que também é professor da pós-graduação da PUC.
Leia, releia, pense e só depois formule sua opinião.
Email recebido dia 22/06/09.
Prezada Amanda,
Saudações.
Realmente é uma faca de dois gumes a questão do diploma. Vivo em contradição e em conflito há muitos anos.
Na sexta-feira, dia 19, dei aula no curso de especialização da PUC-SP para 25 jornalistas diplomados, quase todos empregados na área e interessados em se aperfeiçoar. Debatemos a questão do diploma e evidentemente falei que o diploma de curso superior contribuiu para elevar o nível cultural e técnico da categoria profissional, ajudou a definir melhor o perfil dessa categoria (antes o jornalismo era exercido por muita gente de outras profissões - advogados, professores de letras, policiais etc).
No sábado, dia 20, participei de um curso de comunicação popular, organizado pelo Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro, com 32 pessoas de várias comunidades (Rocinha, Maré, Cidade de Deus, Babilônia, Morro do Estado). Passamos o dia debatendo o papel da comunicação na sociedade e elaboramos a pauta de um jornal da comunidade para a comunidade. É claro que não fazia o menor sentido exigir diploma de alguém para essa tarefa política de classe dominada em luta contra a classe dominante.
É claro que o estudo e a pesquisa sobre o jornalismo cresceram muito nos últimos 40 anos; o jornalismo se tornou uma área de conhecimento importante; hoje temos uma boa discussão sobre manipulação e distorção na grande imprensa, a consciência da necessária democratização dos meios, a luta pelo fim dos oligopólios da mídia, a noção de que a ética jornalística deve existir etc etc. Tem muita coisa mesmo em debate - graças às escolas e cursos de jornalismo.
Acho, no entanto, que a exigência do diploma cumpre um papel de colocar um filtro para o ingresso na categoria profissional (elitização se preferir) e fortalecer a luta por jornada e piso diferenciados em relação aos demais trabalhadores da CLT, embora o patronato neoliberal tenha derrubado várias conquistas da categoria nos últimos vinte anos. É claro que o formado em jornalismo tem noções mais claras (e prática laboratorial dependendo da escola) sobre o trabalho jornalístico do que alguém que não passou pelo curso de jornalismo. É claro que conhecemos algumas técnicas mais adequadas para a apuração, redação e edição do material jornalístico. Dependendo do curso, o formado também carrega alguma preocupação ética e sobre o sentido público e social do jornalismo. A existência dos cursos de JORNALISMO abre a possibilidade para que os jornalistas não sejam treinados pelas empresas (veja que horror jornalistas formados pelo Estadão, TV Globo e caterva), não tenham uma visão privatista da comunicação, mas uma formação mais ampla (pública e cidadã) para a sociedade.
Como eu disse no começo, o conflito existe, é claro: de um lado considero o jornalismo uma atividade política importante na luta de classes, e que, portanto, precisa ser apropriada pelo povo e pela classe trabalhadora; de outro lado, a exigência do diploma é uma pequena garantia de que podemos ter um jornalismo melhor do que o praticado pela grande maioria da imprensa brasileira. E ainda tem a questão de que o diploma é mais um argumento contra a super-exploração da mão de obra, já que as empresas só pensam em baixar seus custos e aumentar seus lucros em cima dos trabalhadores.
Espero que eu tenha conseguido aumentar a confusão.
Abraço.
Hamilton.
Em tempo: Sim, sou jornalista formado pela FAAP em 1973 (depois eles fecharam o curso de jornalismo porque era um pessoal que dava muito "trabalho" para eles).
Artigo da semana: De jornalista para jornalismo
Reviewed by Amanda Cotrim
on
6/23/2009 07:25:00 PM
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