Artigo da semana: De novo

Por Amanda Cotrim

Não sei se vocês sabem, mas eu tenho um blog! Ele de vez em quando me deixa achar que vai pegar dengue, de tão parado que é... Mas ontem eu estava xeretando-o e encontrei um comentário sobre o meu texto: 'Estudantes se manifestam em favor do diploma de jornalista'. O comentário realmente me chamou a atenção, em principio, pelo tamanho. Bem maior do que todos que já passaram por lá. Pois bem, decidi escrever em cima disso:

“Os melhores textos jornalisticos que existem na história as vezes não foram escritos por aqueles que tiveram formação de jornalista, só consideramos a obra de Truman Capote, a Sangue Frio(....)”

Concordo com ele! A “condição” de jornalista é mais antiga do que imaginamos. Já o curso de jornalismo é muito, muito recente. Daí fica até um pouco injusto discutir a qualidade de textos que foram feitos por pessoas sem a formação jornalística.

O curso de jornalismo não forma jornalista, aliás, ele pode até formar, mas não necessariamente fará do sujeito um jornalista. Assim como um curso de letras forma um letrista, mas não há garantias de que este se torne um. Escrever, por si só, não é tarefa fácil! Até porque “dominar” a palavra escrita só se dá com muito treino... Muito ensaio.

“Eu li recentemente o livro Zodiaco do autor Robert Graysmith, uma obra que analisa com perfeição os acontecimentos e assassinatos do serial killer de São Francisco, e ele foi escrito por um cartunista que se fascinou pela história, foi coletando material ao ponto de conhecer tão intimamente os por menores para escrever um livro. Isso não seria considerado um livro-reportagem?”

Não sei te responder. Não li o livro e não posso julgar sua maestria! Mas ainda que ele seja, realmente, um livro reportagem, já não estaria ele na condição de livro? Os livros são muito diferentes de jornais. Um se eterniza enquanto o segundo morre!

“O problema entraria em questão, e os escritores? Teriam que ter diploma também? Sendo que muitos se aventuram vez ou outra a fazer um livro reportagem ou algo assim? Eles se encaixariam nisso?”

Acredito que não necessitaria de um diploma de jornalista, mas deveria sim fazer uma especialização, mestrado, pós... em Jornalismo ou Comunicação Social. Eu posso escrever com maestria romance, poemas, dramaturgias teatrais, mas isso não me garante bons textos jornalísticos. Até porque jornalista não escreve apenas. E o escritor nesse caso sim: só escreve (que já é muita coisa, diga-se de passagem). O jornalista precisa dominar outras vertentes de conhecimento... Que o escritor talvez não possua e, provavelmente, em uma faculdade você poderá ter elementos para adquirir.

"Evidente que em muitos aspectos da sua opinião eu concordo, mas acho um pouco de equivoco relacionar que a profissão de jornalismo está relacionada ao saber limpo das palavras. Na antiguidade isso seria denominado a quem? Aos filósofos? E esses tinham um diploma denominado para pensar, refletir e analisar um objeto ou uma idéia e assim tirar suas próprias conclusões?"

Não disse isso em nenhum momento. E caso tenha entendido isso, me desculpe: não consegui passar a mensagem. Como eu disse, filósofos, historiadores, sociólogos, enfim... Profissionais envolvidos com a área de humanas, não só podem, como deveriam colaborar com um jornal de qualidade. Na revista caros amigos, por exemplo, Marilene Felinto é escritora e todos os meses está lá, com seu texto na revista. Mas, será que a mesma iria para o Paraguai cobrir o tráfico internacional que acontece na fronteira? Ser jornalista não se limita a escrever um bom texto. Aliás, para ser um profissional que trabalha com comunicação não bastam as “coisinhas” da faculdade. Existe uma coisa chamada “feeling”, sensibilidade... Que você não aprende em sala de aula. Você aprende com a vida! E o jornalismo é autorizado pela sociedade para opinar, informar, mostrar, incomodar. O escritor estará sempre na condição de escritor. Ser jornalista vai muito além de escrever uma reportagem...

"Acho que exatamente a beleza da palavra é que ela não está presa a ninguém. Todos são capazes de articular bem as palavras. Não acho necessário um diploma para isso."

A questão não está em ter ou não ter liberdade de articular às palavras. Você é senhor absoluto de si para escrever o que quiser e responder pelas conseqüências que sua escrita poderá lhe render. Qualquer pessoa tem o direito e a liberdade de escrever. Qualquer pessoa pode escrever um livro. Mas, como eu disse, o jornalismo é, simbolicamente, autorizado pela sociedade, e tudo que ele fizer de errado, a sociedade poderá cobrá-lo. Não existindo mais a “classe”, se cobrará de quem? Quando não se exige o diploma de jornal, me soa como sendo algo não organizado, no sentido de que qualquer pessoa pode fazer as coisas que o jornalista faz, mas como? Os professores deixarão de dar aula para serem correspondente internacional? O médico deixará de atender seus pacientes para fazer a entrevista com o ministro Hélio Costa? O dentista deixará de arrancar dentes para ficar numa redação e organizar as informações para a sociedade? Veja caro Thiago, o buraco é muito mais em baixo. Desse jeito me soa como desqualificar a profissão. Desse jeito qualquer BBB, que já pode virar ator, agora vai também querer apresentar o jornal da TV Cultura. Entendeu os exageros?

"A eficiencia para se produzir uma boa matéria, escrita por você, é a mesma fórmula para se produzir qualquer boa teoria / bom texto. Seja ela uma teoria de Freud ou uma teoria de comunicação."

Não concordo! A ciência da filosofia é a hipertrofia do nosso conhecimento. Nem sempre quem faz um bom bolo de chocolate consegue preparar uma ótima lasanha!

"Achar que apenas alguns tem o poder de produzir seja uma boa matéria, ou um bom texto de oratória é excluir muitos gênios artistas, que não tinham nenhuma sabedoria prática mas conseguiam passar na sua narrativa uma riqueza impressionante. Um exemplo que me vem a mente é o sambista Cartola, humilde até o ossos e um dos mais sensíveis compositores do Brasil. E também não só porque uma pessoa X não tenha um certo filtro moral que ele não poderá produzir um matéria ou narrativa rica e positiva."

O poder de produzir todos têm. O poder de emitir também! Crie sua imprensa alternativa, que fuja dos moldes globais, mas se entregue de verdade! Porque o jornalismo requer dedicação máxima! Artistas escrevem arte! Jornalismo não é só arte!

"E confesso que acho impossível despreender esses ofícios. Escrever seja literatura ou texto jornalistico envolve uma série de coisas, mas não acho que isso deva ser focado apenas para algumas pessoas."

Desculpa, mas não é focado para algumas pessoas e ponto. Algumas pessoas, quem? Os jornalistas? Então deveria ser focado aos letristas? Na boa, tem gente que não tem habilidade, outras pessoas têm.

"Honestamente, se quer saber o que eu acho, mesmo você fazendo faculdade de jornalismo, acho que um pedido desses é medo da própria classe."

Honestamente? Acho que você não foi muito feliz nesse comentário.

"Quem é bom o suficiente para se produzir um bom material jornalistico, senta, pesquisa e escreve. Para mim é assim que surgem as grandes reportagens. Tão boas que viram livros."

Sim. Mas nem todas as pessoas possuem essa suficiência! E quem procura um curso de jornalismo, teoricamente, já possui interesse em desenvolver essa habilidade. A faculdade de jornalismo é isso: Desenvolve o historiador morto dentro de você, o cineastra frustrado, o ator que não deu certo... Várias profissões abortadas e que se encontram no jornalismo.

"Defender um diploma é só um lugar para tentar se segurar. Acho que dava para ir além se o pessoal realmente escrevesse do que se preocupar em terminar o curso tendo um certificado".

A defesa do curso não é o fim, mas sim o começo!

"E nisso, concordo plenamente com a Folha de S. Paulo como você escreve: "jornalismo se faz na prática e que o mais importante é um profissional competente e não um diploma".

A Folha de S. Paulo é tacanha e mentirosa, você não sabe o que se passa em suas entrelinhas! O jornalismo se faz na prática sim, mas como em tudo, o estudo é fundamental. Já pensou um professor de português, matemática, se ficassem só no plano teórico da licenciatura, sendo que, um professor também se faz no dia a dia?

Bem, tentei, na medida do possível, responder a todos os trechos do comentário do Thiago (não o conheço, mas ele, pelo jeito, me conhece.)

Abraços!